São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 1994
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A lista de Serra

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Está provocando profundo interesse nos bastidores de Brasília a lista de contribuições da campanha eleitoral de José Serra ao Senado –ao todo, segundo declaração do Tribunal Regional Eleitoral, ele recebeu cerca de R$ 1,9 milhão, fornecido por algumas das estrelas do empresariado paulista.
Há pelo menos dois motivos especiais para o vivo interesse: 1) Serra é ministro do Planejamento e principal destaque da equipe econômica. Portanto, suas decisões afetam diretamente o empresariado, especialmente quando discutir a redução de gastos públicos; 2) como ele é candidato a presidente da República ou, no mínimo, ao governo de São Paulo, monta-se uma equipe de fiscais atrás de um eventual deslize.
É um jogo mesquinho, típico de Brasília, onde, como costuma dizer Delfim Netto, ninguém vem a passeio. É assim que funciona, goste-se ou não.
Mas essa fiscalização mostra um avanço da democracia brasileira: os candidatos são obrigados a tornarem transparentes as doações. De posse da lista, podemos analisar se essa ou aquela medida eventualmente ajuda esse ou aquele financiador.
Óbvio que as empresas não fizeram doações a Serra, Fernando Henrique ou qualquer candidato por motivos filantrópicos. Muitos deles, a julgar pela lista, não foram nada pão-duros. Mas não significa necessariamente que o beneficiário vá ou queira devolver o favor através de uma malandragem.
O fato, porém, é que o controle é hoje muito maior do que antes, quando não se conheciam os nomes. E apenas se presumia se determinada decisão visava retribuir a ajuda de campanha.
PS – Por falar em mesquinharias de Brasília, há uma preocupação absurda no Itamaraty sobre o jantar da posse presidencial. Teme-se que convites sejam vendidos no câmbio negro; fala-se até em R$ 3 mil. Bobagem se preocupar. Quem vende seu convite é um desqualificado –e quem compra também é um desqualificado. Portanto, o nível dos convidados não ficará nem pior nem melhor.

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