São Paulo, quarta-feira, 2 de fevereiro de 1994
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Beija-Flor faz desfile com material da Amazônia

JOÃO BATISTA DE ABREU
DA SUCURSAL DO RIO

A escola de samba Beija-Flor, de Nilópolis, promete não utilizar plumas de animais em extinção no desfile deste ano, cujo enredo focaliza um tema ecológico: as 15 viagens que a botânica inglesa Margaret Mee realizou à selva amazônica para pesquisar e retratar a flora da região, através de livros e aquarelas.
Quem garante é o carnavalesco paraense Milton Cunha, 31, que estréia na função com o compromisso de inovar no desfile, recorrendo a elementos retirados da natureza. "Minha estética foge ao Carnaval do paetê e do lamê, materiais que já estão ultrapassados," afirma Cunha, que é ator, figurinista e produtor de moda.
Segundo ele, a Beija-Flor usará este ano capim seco, bambu, sapê, troncos de árvore, palhas e folhas nas fantasias e nos dez carros alegóricos, além de penas de animais de abate, como patos e perus. Os vestidos das porta-bandeiras, à exceção da principal, estão sendo confeccionados com cascas de uma árvore chamada tururi, tradicional da Amazônia.
Com o enredo "Margaret Mee: a Dama das Bromélias", Cunha quer mostrar que samba e selva amazônica podem formar uma boa parceria. Quando lhe perguntam se não teme que chova na hora do desfile, o carnavalesco responde: "se estes materiais resistem às chuvas diárias na região, por que não resistiriam a dois dias na Sapucaí?"
Desde dezembro, 160 pessoas, entre carpinteiros, ferreiros, mecânicos, aderecistas, costureiros, pintores e escultores, trabalham dez horas por dia no barracão da avenida Rodrigues Alves (no centro do Rio) para montar os dez carros alegóricos, adereços e as 1.800 fantasias cedidas gratuitamente pela escola. A escola desfilará com 4.200 figurantes, em 54 alas.
Cunha disse que 80% dos componentes fazem parte da comunidade de Nilópolis. "Quero fazer com que a Beija-Flor volte a ter a cara de Nilópolis, sem grandes badalações de artistas", afirma o carnavalesco. Mesmo assim, a escola terá entre os destaques oito atrizes de televisão e modelos, que estão obrigadas a participar dos ensaios.
A atriz e bailarina Betty Faria representará a Mãe D'água no alto de um carro com 24 botos luminosos, contando as lendas e mitos da Amazônia. As outras atrizes e modelos são Leila Lopes, Vanessa de Oliveira, Alexandra Marzo (filha de Betty Faria, que vem vestida de serpente ao lado da mãe), Maria Regina, Jaciê de Oliveira, Nani Venâncio e, dependendo de confirmação, Xuxa Meneghel, a quem está reservado o papel de Margaret Mee. Xuxa é a única exceção quanto à presença obrigatória nos ensaios. "O desfile dela é ultracomplicado por causa da segurança. Além disso, ela está doente e uma estrela é uma estrela", justifica o carnavalesco. Se a apresentadora de TV não desfilar, Cunha pretender convidar uma índia ianomami para representar Margaret.

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