São Paulo, quarta-feira, 2 de fevereiro de 1994
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Congresso

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

SÃO PAULO – Assim como a situação criada pelo governo militar transformava em "direitista" qualquer restrição que se levantasse contra o socialismo real, o fantasma do passado autoritário, aliado à aventura de Fujimori, no Peru, tem servido de anteparo a críticas endereçadas ao Congresso.
O argumento é uma balela. O Congresso Nacional é hoje o símbolo acabado da corrupção, da estupidez e do oportunismo barato que caracterizam a política média brasileira. Diz-se entre os "progressistas" que é preciso evitar ataques à instituição e aos parlamentares "in totum", para que não se incorra em "injustiças" e não se alimente a "despolitização" da sociedade.
Acontece que as exceções, como reza o clichê, só confirmam a regra: se o chefe do Executivo tem-se mostrado omisso e disperso, a performance do Congresso é inqualificável. Pode-se argumentar que o impeachment de Collor e a CPI do Orçamento são provas da "vitalidade" da instituição.
São mesmo? No primeiro caso, hordas de parlamentares obscuros e oportunistas responderam atropeladamente às pressões das ruas e às evidências do saque. E ainda assim muitos tentaram bloquear o processo, mudando de lado em cima da hora.
No segundo caso, depois de permitir a organização de uma quadrilha na Comissão de Orçamento, a Congresso –que sabia muito bem o que estava se passando, ao menos os rumores sobre a roubalheira, como já admitiram muitos, eram correntes– tratou de sugerir a aplicação de uma palmatória em parte do bando, que mereceria, em outras épocas, o desterro.
Na semana passada, depois de cozinhar a revisão e as votações do ajuste fiscal, os nossos congressistas brindaram a sociedade com a aprovação de um aumento para o IR das pessoas físicas. E gazetearam na votação do aumento de IR para as empresas, que acabou não sendo aprovado. Uma beleza.
"O presidente que vete", sugeriram bufões. O Congresso que se manque –sugerimos os eleitores– e entenda que lugar de palhaço, como sabem as criancinhas, é no circo.

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