São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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Vírus de leucemia mascara ação do HIV

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores brasileiros e norte-americanos descobriram que a presença do vírus HLTV-1, responsável por uma forma de leucemia, pode mascarar sinais da presença do HIV no sangue, o vírus da Aids.
"A importância do estudo é que, para pessoas com ambos os vírus, é preciso desenvolver outros parâmetros para avaliar o desenvolvimento da Aids", disse à Folha Mauro Schechter, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que publicou na edição desta semana da revista da Associação Médica Norte-Americana (Jama) seus resultados. Eles foram obtidos em colaboração com cientistas da Universidade Johns Hopkins (EUA). O trabalho foi assunto de editorial da revista científica.
O estudo revela que portadores de ambos os vírus apresentam 82% mais glóbulos brancos –do tipo CD4– do que os que têm apenas o vírus da Aids no sangue.
Segundo Schechter, a contagem de CD4 no sangue é normalmente utilizada como marcador da evolução da doença. Um nível baixo de CD4 é associado a um grau avançado da Aids, pois o HIV age sobre essas células causando sua destruição.
Médicos usam o nível de CD4 para recomendar ou não o uso de drogas como o AZT e para verificar a eficácia de novos medicamentos.
"Deve haver cautela ao usar o CD4 como marcador em estudos com populações onde o HLTV-1 é prevalente", concluíram os pesquisadores na Jama.
Já o HTLV-1 é um vírus da mesma família do HIV (anteriormente denominado HTLV-3) que leva ao aumento dos níveis de CD4. "Fizemos a pergunta: se um leva à diminuição e outro ao aumento, o que acontece a quem tem os dois?", disse Schechter. Para obter a resposta, foram estudados 27 pacientes com ambos os vírus e 99 apenas com o HIV.
"Estamos fazendo outros estudos para encontrar um melhor parâmetro para avaliar a evolução da Aids, mas ainda não há resultados", disse o brasileiro.
No Caribe, cerca de 13% das pessoas com o HIV também têm o HTLV-1. Naquela região, o HTLV-1 está associado a um distúrbio neurológico que leva à paralisia. Já na Bahia, o índice sobe para 20%. "Nossa pesquisa mostra que no Rio esse número é de cerca de 6%", completa o pesquisador.
No Japão, o HTLV-1 é responsável por um tipo de leucemia mortal. "Não se sabe por que o vírus causa duas doenças diferentes. Dou um queijo a quem me contar", disse Schechter.

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