São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994 |
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Alternativas para quem odeia Carnaval
DAVID DREW ZINGG
Este estimado instituto tem um lema: "O Carnaval é uma festa, e assim como a maioria das festas, é um tédio". Num gesto tipicamente humanitário, tio Dave organizou algumas alternativas para ajudar você a sobreviver àquela temível semana que antecede a quaresma. O próprio tio Dave está a caminho de Viena para dançar valsas, vestindo fraque, no evento social mais exclusivo da Europa, o Opernball. Morra de inveja, Joãozinho. A seguir, as notáveis idéias que tio Dave oferece para você escapar de um Carnaval podre. Alerta das Casquinhas: Por que entrar na temporada da quaresma recoberto de feias casquinhas? Arranque-as todas fora hoje à noite quando a Mangueira entrar na pista. Lembre-se, vermelho é a cor da sorte! Noite do Código Morse Aconchegante: Quanto tempo faz que você decorou o código Morse? Tempo demais! Está na hora de um cursinho de reaprendizado... hoje à noite! Confrontado com o horror do carnaval, você precisa aprender a sinalizar "S.O.S. - Segurança Ou Suicídio". Novos Cabelos Aqui e Agora: Por que ficar aí chorando na escuridão, enquanto o bloco particular do teu vizinho estraga tua noite insone? Passe a mão numa tesoura e comece a fazer experiências com novos penteados para estrear na missa de Páscoa. Mime teu Cãozinho: Você tem um guarda-roupa cheinho das máscaras, fantasias e confetes do Carnaval do ano passado. Tudo que falta pra você fazer uma grande festa de anticarnaval é... um bichinho de estimação! Os animais de estimação são os únicos bichos em quem se pode confiar realmente. Cãezinhos, gatinhos e até mesmo tartarugas terão prazer em vestir um biquininho de festa. Eles ficarão de pé nas patinhas traseiras e mostrarão que admiram teu smoking chiquíssimo enfeitado de lantejoulas. Eles vão adorar assistir teu especial predileto do Chacrinha, que você gravou nos bons velhos tempos, em 1975. E assim você vai poder passar uma noite realmente divertida. O melhor de tudo é que bem na hora que o desfile terminar no Sambódromo suado e lotado, teus bichinhos farão fila para te dar um beijinho bem molhado. A Cerimônia das Plantas Mortas: Chegou a hora de encarar a verdade: boa parte das plantas em vasos que você tem em casa já estão acabadas. Estão marrons, ressecadas ou podres. Chegou a hora de lhes dar um enterro condizente. Enquanto o ponteiro do relógio se aproxima da meia-noite e todo mundo fora você está num baile de carnaval, barulhento e chato, acenda algumas velas pretas. Agora vem a parte divertida. Enfeite uma sacola de compras usada com papel crepom preto. Coloque todas tuas plantas mortas nesta sacola de plantas mortas e cante uma marcha fúnebre solene enquanto você se dirige à lata de lixo. Faça alguns minutos de silêncio para recordar os grandes momentos que você passou ao lado das plantas e deixe-as ali para serem recolhidas pelos lixeiros. O processo de cura já começou. Feliz Carnaval! Onde? A televisão é mágica. A televisão cobre o mundo, pulando de um país a outro com o simples apertar de um controle de satélite. Parece que a televisão cria suas próprias regras. A CNN é minha janela favorita para o mundo, mas às vezes é difícil saber quando acreditar nela ou não. Tomemos o caso de seu programa de domingo, o "CNN World Reports". O programa é uma série de segmentos reportados por correspondentes e por redes de televisão de diferentes países. Assim, a BBC e um repórter britânico transmitem à CNN uma reportagem sobre um atentado a bomba no centro de Londres. Da Africa do Sul vemos uma matéria sobre as elelções nesse país, enviada por uma emissora sul-africana e seu repórter sul-africano, que está numa rua da Cidade do Cabo. Minhas dúvidas sobre a CNN surgem quando eles chamam "a TV Globo, do Brasil, e seu repórter Paulo Henrique Amorim" para comentar o último escândalo do Congresso em Brasília. O trecho começa com a voz de Amorim, superposta a cenas de Brasília. Na tela aparecem as palavras: Paulo Henrique Amorim, TV Globo, Brazil. Amorim continua sua excelente reportagem com sua voz superposta a mais imagens do Congresso. O segmento termina com Amorim, agora ao vivo, sendo entrevistado por um âncora da CNN. Atrás de Paulo Henrique você lê uma frase, aparentemente na parede do estúdio atrás de sua cabeça, que revela, mais uma vez, "TV Globo" e embaixo disso "Brazil". Precisei de várias semanas para ver, escondidos cuidadosamente por trás da cabeça de Amorim, minúsculos pedacinhos das letras "N" e "Y". Durante a maior parte do tempo a cabeça do âncora esconde completamente o que evidentemente são as palavras "New" e "York". Muito de vez em quando, Amorim realmente faz uma reportagem ao vivo do Brasil. Uma vez eu o assisti ao vivo de Cuba. Nesses casos a CNN declara orgulhosamente que ele está onde está. A pergunta é: por que tanto mistério quando ele superpõe a voz a uma reportagem e obviamente não se encontra no local? Por que a CNN não nos revela o fato? A brincadeira de esconde-anel em que Amorim se engaja suscita perguntas interessantes sobre os níveis de verdade praticados pela CNN e a TV Globo, e cria um pequeno mistério. Afinal de contas, onde está o Amorim? Lendo espuma de cerveja Se você está realmente a fim de ficar por dentro das últimas, é só perguntar a alguém que já esteja traçando a sexta cerveja. O jornal "The Daily News", a "Folha da Tarde" de Nova York, foi até o bar Manhattan Brewing Co., na rua Thompson, checar com os consumidores da espumosa o que está "in" e "out" em 1994, na visão deles. A MTV, que transformou grandes contingentes dos dançantes fãs do rock em obesos e idiotas sofazeiros adolescentes, é "out". Também "out", graças a Deus, são os bonés de beisebol usados de trás para diante e jovens cabeças-ocas usando roupas grunge. Outros itens qualificados com um "não" retumbante: a dupla mais detestável do mundo do desenho animado, Beavis e Butthead, constam da lista do que vale a pena ser esquecido, juntamente com Tom Cruise e os concursos de lançamento de anões. Será que os sedentos cervejeiros viram alguma coisa que vale a pena incentivar em 1994? Os bebedores de cerveja, do tipo masculino, não encerram grandes surpresas. Constam de sua lista de coisas quentes o futebol e uma gama de itens físicos. O primeiro na lista dos itens realmente cool deste ano é: perfurações corporais. Não estamos falando em brincos e orelhas furadas, cara. Para ser "in" você precisa perfurar pelo menos teu nariz. Os implantes penianos são in. Estará a Gringolândia se abrasileirando? Pois no alto da lista dos "in" em Nova York figura aquele velho favorito aí de casa, o bumbum. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Lean traduz épico intimista de Dickens Próximo Texto: A mãe da bondade ainda é alimento do sonho Índice |
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