São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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Caldera assume e tenta pacificar os militares

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A ambição do presidente da Venezuela, Rafael Caldera, 78, pacificador da guerrilha quando governava entre os anos 60 e 70, é alcançar outro tipo de pacificação durante a nova administração, iniciada ontem. Como fez com os ex-guerrilheiros, muitos agora incorporados à sua coligação de 17 partidos, ele já estuda a anistia aos militares que participaram de duas tentativas de golpe, em 1992.
Em cima da posse, anunciou a troca da chefia das Forças Armadas, chamada por ele de "máfia militar" ligada ao ex-presidente Carlos Andrés Pérez, tirado do palácio sob a acusação de corrupção.
O clima golpista, incrementado pelo cotidiano de violência urbana produziu rumores de levantes em maio, agosto e outubro. Mas eles não impediram que a Venezuela fosse às urnas em dezembro e mantivesse sua longevidade democrática de mais de 30 anos de eleições sucessivas. Na votação, os partidos tradicionais foram os mais castigados.
Em 10 anos, a renda dos venezuelanos caiu 30%, em boa parte consequência do "neoliberalismo" do governo anterior. Caldera elegeu-se garantindo acabar com os altos custos sociais dessa política. Mas sua coligação é um saco de gatos (social-democratas, nacionalistas de esquerda e direita, comunistas etc.) e não tem maioria no Parlamento. Ele precisará de um "acordo de governabilidade".
O preço do barril de petróleo, base da economia do país, caiu para US$ 12, quando estava previsto para US$ 15,6 no Orçamento deste ano, elevando para US$ 3 bilhões o déficit público. Além disso, para conseguir votos, Caldera disse que acabará com o IVA, Imposto do Valor Agregado, adotado no ano passado e criticado pelos venezuelanos. Um quebra-cabeças explosivo se instala na Venezuela.

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