São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994
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O "baiano" e o "turco"

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Na coluna publicada ontem, relembrei frases de Antônio Carlos Magalhães sobre Paulo Maluf, a nova dupla dinâmica da sucessão presidencial –informei que não daria opinião, faria apenas um seco registro. Não resisto.
Paulo Maluf resolveu processar ACM por injúria. O atual governador da Bahia ameaçou dinamitar seu adversário com um dossiê repleto de documentos. A frase: "São documentos de muita gravidade, capazes de banir qualquer homem da vida pública em um país sério".
Primeira hipótese: havia mesmo documentos devastadores. Ele estava falando a verdade. Por que não divulgou? É correto um homem público saber de um crime e não denunciá-lo? Mantê-lo em segredo não seria conivência?
Segunda hipótese: era tudo mentira, não existiam documentos. Como classificar alguém lançar acusações tão graves e tão levianas? O que aconteceria com um homem público que tivesse a mesma atitude num país sério?
A ironia está numa obviedade. Nem o suposto detratador nem o suposto criminoso sofreram qualquer tipo de punição. Maluf não foi banido da vida pública e, agora, ambos estão preparando uma aliança.
De fato, ACM tem razão: muita coisa seria diferente caso o Brasil fosse mesmo sério.
PS – Vale a pena reler trecho de um editorial publicado nesta Folha, em 19 de setembro de 1984. "O candidato do PDS, Paulo Maluf, referiu-se ao ex-governador Antônio Carlos Magalhães como 'um baiano', valendo-se das conotações depreciativas que às vezes cercam o termo em São Paulo". Mais adiante, o editorial afirma sobre ACM: "Numa lamentável atitude discriminatória, propôs em seguida o banimento dos turcos que não sabem respeitar os interesses nacionais". No parágrafo seguinte: "Termos como porco, mafioso e gângster têm sido de uso corrente na discussão".
Outra ironia: foi um "turco" que salvou a vida de ACM, vítima de delicadas complicações cardíacas.

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