São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994 |
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O filho do trovão
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO – O relatório da CPI do Orçamento saiu com erros e já há um culpado: o computador que trabalhou para o relator-geral. Não dá para justificar outra CPI para o computador. Dá-se o benefício da dúvida: errou porque é máquina e tem o mesmo direito concedido ao homem: errar.Não entendo de informática e dos computadores quero prudente e recíproca distância. Sei que são eficientes demais e como tudo que é eficiente de mais, o computador é burro. Já operei máquinas fotográficas computadorizadas e perdi cinco rolos de filme (asa 400!) dentro da catedral de Toledo. A culpa –por Júpiter!– foi da máquina que me deu informações erradas sobre a luz e a sombra, principalmente a sombra. Como fotografar uma catedral gótica sem as suas sombras? No caso, a máquina estava programada para outro tipo de sombra e as fotos saíram expostas: a catedral ficou parecendo o "hall" de um hotel de Miami. Sei que o computador é a ferramenta do futuro. A máquina de escrever aposentou uma geração de jornalistas –a geração de meu pai que escrevia a lápis nas antigas laudas que sobravam da rotativa. Bem verdade que o computador ainda não me aposentou de todo. Nas horas de sufoco apelo para ele, mas me sinto mais burro do que o habitual. Houve época em que fui responsável pela teledramaturgia de uma rede de televisão. Ainda havia a censura federal e na hora de "D. Beija" ir para o ar eu recebia o telex de Brasília, mandando cortar isso ou aquilo. Descia à ilha de edição, muitas vezes não havia nenhum operador disponível, eu próprio mexia naqueles botões e sempre conseguia piorar a coisa. Diante do computador minha reação é a do índio diante do Diogo Alvares Corrêa, que deu um tiro para o ar. Os índios caíram de joelhos e o adoraram, chamando-o de "Caramuru" –que parece significar "filho do trovão". É isso aí. Esse filho do trovão foi o culpado pelos erros do relatório da CPI do Orçamento. Ajudou a fabricar uma pizza –o que não deixa de ser mais uma conquista da informática. Texto Anterior: O "baiano" e o "turco" Próximo Texto: Revisão e sucessão Índice |
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