São Paulo, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1994 |
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Sydney vê um desfile gay ao longo da Oxford Street
E JULIA DIAS
Oxford Street caiu um pouco em decadência, mas nesta época do ano a mistura de prédios de dois ou três andares alcança novamente seu prestígio. As fachadas pintadas com cores que refletem os últimos 30 anos e a mistura excêntrica de butiques, galerias de arte, sex-shops, cinemas de filmes artísticos e "singles bars" representa a atualidade da rua. As proporções mais humanas da arquitetura garantem que o desfile mantém sua intimidade. É o centro gay de Sydney, que tem a maior população homossexual do hemisfério Sul. Já passou a época militante. A Aids e a recessão diminuíram o entusiasmo pelas causas e agora a atração comercial e a procura da diversão dominam a rua e o evento carnavalesco. A agressão que marcou o desfile nos primeiros anos foi substituída por uma boa dose de humor e pelo comentário sutil sobre a política, atraindo cada vez mais espectadores. Os ativistas se tornam artistas e os participantes ainda precisam ser vetados pelo comitê organizador oficial gay e lésbico, porém as restrições são meras formalidades hoje em dia. Quando a noite chega, é o sinal do começo do desfile. Carros alegóricos e fantasias extravagantes surgem ao lado do parque. A escolha musical é tão eclética quanto os temas dos grupos que desfilam. Como a Oxford é uma rua comum de trabalho, os fios de eletricidade e as dimensões estreitas restringem o tamanho dos carros. O que se perde em grandeza se ganha em entusiasmo. Entre os carros, estão os artistas da rua, animando a multidão com brincadeiras ou distribuindo preservativos. Das janelas, jogam confete. O provocante e o exuberante são o lema do dia. Por mais de duas horas, o desfile sobe o Paddington Hill, deixando a multidão maravilhada e perplexa. Para os pais resta a responsabilidade de explicar o que seus filhos já viram. Quando os carros chegam, são guardados e aqueles com ingressos se apressam para o baile gay e lésbico que se segue. O baile oferece jantar e música sem parar –durará até o amanhecer. Enquanto Sydney é jovem e brilha, Melbourne é cultura, tradição e beleza refinada. O desfile Moomba encerra uma semana de festividades que celebra suas raízes multiculturais. Grupos étnicos representando quatro continentes trabalham cuidadosamente o ano inteiro para representar o seu lado melhor. Roupas tradicionais restauradas ou atualmente recriadas vestem os participantes. Gregos e turcos, judeus e libaneses, chineses e japoneses, poloneses e lituanos –e até latino-americanos– se juntam para o evento, desafiando rivalidades tradicionais. Cuidadoso planejamento assegura que as inimizades não ganhem espaço. Enquanto o "Mardi Gras", em Sydney, pertence à noite e tem seu lado negro, Moomba é um festival do sol de primavera. Acontece durante a manhã. O clima mais temperado de Melbourne permite o uso de roupa pesada e os grupos étnicos na multidão respondem à passagem de sua herança. Os carros representam amplos temas da comunidade, heróis e esportistas. A música é irrelevante no desfile. As bandas marcham com seus instrumentos brilhando e movimentos militares curtos ajudam a trazer ordem ao que segue. O ritmo é lento e o objetivo é simplesmente se divertir. O programa dos espectadores após o desfile pode incluir um piquenique em um dos numerosos parques que embelezam a cidade de Melbourne. Não há rivalidade entre esses dois grandes eventos de Carnaval. Fala-se tanto das diferenças que separam Sydney e Melbourne, que a comparação é irrelevante. Cada desfile é apreciado pelo seu esplendor e, assim como o vinho australiano, não importa se for tinto ou branco, desde que seja partilhado com bons amigos. IAN ROBINSON, 37, e JULIA DIAS, 29, atuam na área comercial e cultural do Consulado da Austrália em São Paulo. Texto Anterior: Colônia mostra face solar da terra de Goethe Próximo Texto: Veneza exige que todos se mascarem e sejam outro Índice |
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