São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994
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Corte do crédito rural pode derrubar preços

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Na boca da safra, os preços agrícolas podem cair ainda mais se for mantida a decisão do Banco do Brasil (BB) de suspender o crédito rural até a votação no Senado da nova medida. Ela obriga o governo a devolver aos produtores cerca de US$ 20 bilhões, correção monetária e parte dos juros cobrados sobre os empréstimos rurais contraídos nos últimos 14 anos.
A previsão é do Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, Roberto Rodrigues, e do economista da Universidade de São Paulo, Fernando Homem de Melo. Além da falta de crédito, o que reforça a perspectiva de queda dos preços é a falta de recursos no orçamento deste ano para financiar a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), afirma Rodrigues.
"Se o produtor não tiver capital na comercialização, ele acaba vendendo mais rápido a safra e os preços caem", diz Homem de Melo. Em seus cálculos, o crédito para custeio agrícola da safra 93/94, que começa a ser colhida, está entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões (BB e bancos privados). Esses recursos financiam de 15% a 20% do total de grãos produzidos.
"O crédito rural tem sido um mecanismo de concentração de renda ao contrário", diz Rodrigues. Segundo ele, como os preços não têm sido reajustados na mesma proporção da correção do crédito, quanto mais o produtor usar financiamento, mais perde renda.
Tanto Homem de Melo como Rodrigues não acreditam que essa medida passe no Senado. O economista diz que ela não tem sustentação financeira e econômica: é comum em uma economia com inflação o aplicador receber a correção monetária e um pequeno juro.
Para Rodrigues, a medida abre o canal de negociação entre o Executivo e o Legislativo sobre a questão do endividamento rural. Trata-se de uma briga antiga, que vem desde o Plano Cruzado. (MCh)

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