São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Parlamentares reclamam da vida

DO ENVIADO ESPECIAL

Volto ao plenário que se encontra novamente naufragado por falta de quórum. No fundão, dois parlamentares nordestinos reclamam da vida. Estão magoados porque a imprensa "conseguiu enfiar na cabeça do povo que a gente não trabalha". Entre um biscoitinho e outro, ameaçam desistir da vida pública. "Eu não preciso disso", diz um. "Nem eu", diz o outro. Mas em poucos segundos já estão confabulando sobre as chances dos adversários em sua regiões. "Fulano tá bem nas pesquisas, mas é meio alheado, meio louco...", diz A. "Pode ser que ganhe, o povo tá mais louco do que ele", conclui B.
A atenção do ambiente é subitamente desviada pela entrada em cena do visual espacial de piloto da nave Enterprise de Esperidião Amim. O senador careca circula ágil e serelepe pelo plenário. Sorri triunfante porque seu partido, o PPR, bloqueou a inversão de pauta. O que novamente, na lógica de beisebol do jogo parlamentar, colocou para escanteio a votação do tal Fundo Social de Emergência de Fernando Henrique.
Onde quer que vá, Esperidião tem a capacidade de arrastar um cordão de microfones. "O meu visual é meu maior apelo de marketing. Enquanto todo mundo tem conversar com os eleitores, cumprimentar um por um: eu sou Fulano de Tal, candidato a deputado. Eu preciso apenas entrar e sair rapidamente dos lugares. Todo mundo fica sabendo que o Amim passou por ali", explica sua tática. Mas os repórteres insistem em saber porque o PPR está adiando a votação do fundo do ministro FHC, indo contra a tal inversão de pauta. "Nós do PPR somos contra todo tipo de inversão, inclusive esta", e o senador dá uma desmunhecada imitando uma bicha afetada. E ri sozinho da própria piada.

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