São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Se fosse ministro...

MOACYR SCLIAR

– Você sabe que aquele cara, o dono do apartamento onde nós entramos depois do assalto, você sabe que aquele cara é ministro?
– Ex-ministro.
– É. Mas você viu que sorte a gente teve? Sorte, sim. De todos os apartamentos que a gente podia ter escolhido, fomos logo cair no do ministro.
– Ex-ministro.
– É. Sempre esqueço. Também, num país destes que troca ministério a toda a hora, como é que a gente vai lembrar quem é ministro e quem não é? Mas confesso que desconfiei de alguma coisa. Porque o cara tinha toda a pinta de ministro.
– Ex-ministro.
– É. Pinta de ex-ministro. Bem, ministro ou ex-ministro, que diferença faz? O cara tinha pose de sujeito importante. Eu até pensei comigo: deve ser um figurão. Achei que ele podia ser um vereador, um deputado até, quem sabe até senador. Mas, ministro!
– Ex-ministro.
– É. Ex-ministro, eu nunca poderia ter imaginado que ele fosse. O que, convenhamos, foi uma pena. Porque a gente podia até ter feito amizade com ele. E nada melhor do que ter um amigo ministro.
– Ex-ministro.
– É. No caso, ex-ministro. De quê, mesmo? Bem, não importa. O que esses caras fazem não interessa muito, o que interessa são as conexões, percebeu? Você se chega a um sujeito desses e está feito na vida. Daí em diante, em qualquer situação, você menciona: quem me mandou aqui foi o ministro.
– Ex-minisitro.
– É. E aí tudo fica fácil. Você arranja qualquer coisa, até uma boquinha no governo. Com uma recomendação...
– De ex-ministro? Duvido.
– É. Também duvido. Olha, você quer saber. Acho que não perdemos grande coisa. Ex-ministro não está com nada. Agora, se fosse um ministro...

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