São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vaivém do plano dá lucro na Bolsa

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um olho em Brasília e outro no pregão da Bolsa. Isso é comum na vida dos investidores, mas em tempos de telefonia celular, o hábito se radicalizou. Agora, é um celular nas galerias do Congresso Nacional e outro nos escritórios dos bancos e corretoras. Esse foi o instrumento mais importante das últimas semanas. Foi com a ajuda dele que as instituições financeiras ganharam dinheiro ou deixaram de amargar prejuízos.
O Banco Cindam, por exemplo, conseguiu um lucro US$ 500 mil em dois dias. Na segunda-feira passada, as informações de Brasília davam conta de que o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, conseguiria recuperar o dinheiro perdido com o veto do Congresso Nacional ao aumento do Imposto de Renda para pessoas jurídicas, com a aprovação do Fundo Social de Emergência.
A ordem da mesa de operações foi comprar lotes de ações no mesmo dia. Na terça-feira, a Bolsa de Valores subiu mais de 11%.
"Foi daí que Brasília nos avisou que os partidos resistiam a votar o Fundo e colocou o assunto em último lugar na pauta de votação", afirma Carlos Camacho, diretor do Cindam. "Desmanchamos tudo na hora na quarta-feira."
Os mesmos motivos levaram o ING Bank a montar e desmontar sua posição em ações nos primeiros dias da semana passada. O ganho somou US$ 3 milhões. "Saímos da posição quando percebemos que o quadro da votação ficaria indefinido", conta José Berenguer, diretor financeiro do ING. "E isso vai continuar assim até a semana que vem. Para ganhar dinheiro de novo, depende da rapidez com que acertarmos a tendência da votação do Fundo Social de Emergência."
Os comentários do mercado acionário já elegem o grande vitorioso nesta temporada de alta das Bolsas de Valores: a Corretora Tendência, do megainvestidor Leo Kriss. A instituição teria acertado em todos os movimentos e ganho a bagatela de US$ 100 milhões na duas últimas semanas no jogo de sobe e desce das cotações.
Luciano Prado, diretor da instituição, reage com a frieza de um bom investidor e diz apenas que o processo de alta do mercado acionário é irresistível.
"Nosso posicionamento é de médio e longo prazos", afirma. "Para fazer o giro de curto prazo, usamos de bom senso. Mas não é sempre que acertamos." A forma de cada um operar é sempre diferente, mas se harmoniza num ponto: a atenção voltada para Brasília.
Eduardo Rocha Azevedo, presidente da Corretora Convenção, dispara seu celular pelo menos dez vezes nos dias em que as decisões são mais importantes.
Como as negociações em torno do ajuste fiscal avançam, recuam e mudam de forma a cada momento, o telefone celular é o meio mais eficiente de manter o pregão atualizado às novidades. "Preciso ter a informação correta no minuto que ela acontece", diz Rocha Azevedo. "Por isso, fico com o meu celular o dia inteiro ao acesso das mãos." Os bancos contratam consultores especializados que percorrem diariamente os corredores do Congresso para saber o que está acontecendo.
"Isso não quer dizer que só ganhamos", conta Rocha Azevedo. "No dia da votação do aumento do Imposto de Renda das pessoas jurídicas, mantivemos nossa posição comprada e perdemos, para recuperar o lucro na segunda e terça-feiras. Agora, estamos quietos, esperando a votação do Fundo Social de Emergência."

LEIA MAISsobre as Bolsas na pág. 2-10.

Texto Anterior: Nova moeda fica para terceira fase
Próximo Texto: Atraso previsto; Dúvida paralisante; Cantando o blefe; Com diversificação; Por um tempo; Pelo essencial; Contra o monopólio; Plano irreversível; Pequenas e perigosas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.