São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Economia dá marcha à ré no 1.º semestre

CRISTIANE PERINI LUCCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da euforia nas Bolsas de Valores e do apoio dos empresários ao Plano FHC, o quadro macroeconômico traçado pelos economistas para o primeiro semestre deste ano não é cor-de-rosa. Recessão, retração da atividade, queda no Produto Interno Bruto são expressões que voltam a estar presentes nas análises. As razões: incertezas, inflação e altos juros reais de 2% ao mês.
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) prevê uma queda de 0,4% no PIB no primeiro trimestre em relação aos três meses anteriores e de 0,2% no segundo. "O arrefecimento do crescimento econômico, que começou a ser verificado já em meados do ano passado, pode se reverter mais tarde, e o PIB deve fechar 94 com crescimento de 2%", afirma Renato Villela, do Ipea.
A produção industrial, segundo o Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Instituto, deve cair 1% no primeiro trimestre na comparação com os três meses anteriores e 2,2% no segundo.
"Com os juros atuais, mais impostos e as indefinições em relação ao Plano FHC, ninguém investe ou compra. O primeiro semestre tende à recessão", confirma Mario Bernardini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp.
Para ele, o processo de implantação da URV não deve estimular o crescimento. Mas, se a URV virar moeda "sem traumas" e se o ajuste das contas públicas for aprovado, poderá haver queda na inflação e retomada da economia.
O possível aumento dos gastos das prefeituras e Estados com "obras e inaugurações" à medida que se aproximam as eleições devem contribuir para um segundo semestre melhor, diz Bernardini.
Ele destaca, porém, que a inflação menor geralmente piora o desempenho do setor financeiro. "Um ajuste nesse setor tem sempre grandes dimensões, pois ele representa quase 15% do PIB."
Carlos Antonio Luque, presidente da Ordem dos Economistas de São Paulo, afirma que há empecilhos ao crescimento sustentado da economia brasileira. "Desde 87, o quadro geral é de estagnação, com o PIB oscilando devido a fatores conjunturais, ao sabor dos ventos." Para ele, a peça básica para a retomada do crescimento são os investimentos, "que vêm caindo nos últimos anos."
O economista Antônio Kandir prevê que a retomada sustentada do crescimento deve acontecer no último trimestre de 94. Ele prevê um primeiro semestre "fraco" e a partir de março um leve aumento da inflação em cruzeiro real, reduzindo o consumo e a produção.
Em meados deste ano, no entanto, segundo ele, é que a estabilização irá se consolidar, possibilitando a redução dos juros e implantação da nova moeda. Então, no seu entender, a inflação deve cair e a demanda crescer, primeiro por bens de consumo, depois intermediários e no quarto trimestre, por bens de capital.

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