São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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FHC e a armadilha do plano

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ou Fernando Henrique sai na próxima quarta ou fica até o fim do governo".
"FHC está se tornando insubstituível. Sem ele não tem plano, nem governo".
Esses comentários resumem opinião consolidada em meios econômicos e políticos: a queda do ministro da Fazenda significa a queda do governo, com toda a incerteza que isso espalha pela economia.
Na verdade, muitos empresários e políticos acreditam que FHC deve permanecer no governo mesmo sem condições de tocar seu plano. Nesse caso, ele ficaria só para evitar o pior -um governo inepto, mas capaz de todas as confusões.
Fernando Henrique Cardoso, entretanto, já disse que só fica para fazer o plano e deu prazo até terça-feira para o Congresso votar o Fundo Social de Emergência, peça essencial do programa. E qual a disposição do Congresso?
É variada, com uma coisa em comum: quase ninguém lá está pensando em acabar com a inflação. O assunto é ajudar ou sabotar a candidatura presidencial de FHC.
PT e PDT estão na posição mais simples: contra tudo. Já os partidos à direita, PPR e PFL, aplicam estratégia mais complexa. Pretendem dar a FHC não tudo o que ele pede, mas uma parte, de tal modo que o ministro não tenha argumentos para sair, mas também não tenha condições para alcançar êxito imediato com o programa. Uma situação em que FHC não poderia nem sair candidato presidencial, nem tornar-se um bom eleitor.
Para FHC, o cenário ficou assim: se o Congresso rejeitar o Fundo Social de Emergência, o ministro sai e se lança candidato. Se, ao contrário, o Congresso aprovar o Fundo, como o ministro quer, ele será obrigado a ficar e iniciar a segunda fase do plano, com a criação da URV. Nessa hipótese, ficaria para o início de abril a decisão entre continuar ministro ou sair para a candidatura presidencial.
Membros da equipe econômica, neste final de semana, trabalhavam com a hipótese de ficar pelo menos até abril. Continuavam cozinhando a URV. Mais para a frente, aliados de FHC sugerem a alternativa: se ele conseguir fazer seu sucessor na Fazenda, dando continuidade no plano, deve sair e ser candidato. Se não puder fazer o sucessor, deve permanecer e concentrar-se no plano.
Terça e quarta-feira se verá. Muita água vai rolar porque o Congresso tende a aprovar um Fundo mutilado e aí todos vão avaliar ganhos e perdas antes do próximo lance. Uma animada véspera de Carnaval.

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