São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Mercado britânico ensaia retomada em 94

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

As sóbrias, sólidas e espaçosas casas de estilo vitoriano do início do século, que predominam nos subúrbios de Londres, devem voltar a ser um bom negócio a partir deste ano. Depois de murchar por quatro anos, o mercado imobiliário britânico dá mostras de estar começando novo ciclo de expansão.
A expectativa é de que a recuperação seja serena, levando à recomposição lenta e parcial dos preços que despencaram desde o início da década. A Halifax Buildibg Society, a maior imobiliária do país, trabalha com a previsão de valorização média de 5% das propriedades até o final do ano.
Se concretizada, a alta terá ocorrido com um ano de atraso em relação às previsões preliminares. Em 93, a esperada recuperação não aconteceu, embora a tendência de queda tenha sido estancada com ligeira variação positiva de 1,2%.
A modesta valorização que se prevê contrasta com a exuberância do mercado nos anos 80, quando os preços dos imóveis chegaram a dobrar em períodos de dois ou três anos. A recessão que se seguiu, aliás, teve origem na percepção de que os sensacionais saltos nos preços haviam distanciado o mercado da realidade.
O fenômeno observado nos anos 80 é fruto da política da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher de popularizar o capitalismo. Junto com as privatizações, o principal meio de se atingir esse fim foi acesso ao crédito imobiliário.
Em 83, durante seu segundo mandato, foi criado um programa de incentivo à compra da casa própria, baseado na redução dos juros para empréstimos até 30 mil libras esterlinas (cerca de US$ 45 mil). O programa existe até hoje, apesar de, no último orçamento, o governo ter limitado o desconto.
O mercado imobiliário recebe impulso fundamental do mercado de locação. O aluguel em Londres é tão elevado que frequentemente acaba sendo superior à prestação da hipoteca. O proprietário, portanto, não precisa esperar a valorização para começar a ganhar.
E é muito fácil obter o empréstimo. Bancos e imobiliárias oferecem crédito por períodos máximos de 25 anos e equivalente a até 95% do valor da propriedade, observado o limite de três vezes o salário anual bruto do interessado.
Essas condições favoráveis geraram uma demanda que, apesar da recessão, manteve os preços salgados. Um flat de dois dormitórios num subúrbio de classe média baixa em Londres, por exemplo, custa cerca de US$ 100 mil –mesmo que não esteja instalado numa construção vitoriana.
Uma particularidade do mercado britânico é que o terreno onde o imóvel está construído não é vendido. País insular de algumas tradições arraigadas, o Reino Unido mantém a prática secular de permitir que o proprietário do terreno o alugue por períodos de 99 anos.
O modelo cria situações inusitadas aos olhos de estrangeiros. Como, por exemplo, comprar uma casa que se vai acabar de pagar depois que expirar o contrato de aluguel do terreno.
É claro que, neste caso extremo, barganha-se desconto à altura da excentricidade do sistema.

O jornalista OSCAR PILAGALLO morou em Londres de 1986 a 1991.

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