São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Recuperação econômica dos EUA é frágil

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Como 1993 foi melhor ainda, com o maior avanço do PNB em cinco anos, a menor inflação em sete e o índice de desemprego em tendência de ligeira queda, o presidente Clinton terminou seu primeiro ano de governo com altas taxas de aprovação pública. Apesar das humilhações em política externa, das dificuldades para aprovar qualquer matéria num Congresso em que seu partido tem maioria folgada e do escandalo de Whitewater.
Esperto, Clinton tenta atribuir a si o aparente sucesso da economia. O presidente tenta se apropriar de qualquer coisa positiva que ocorra no país. Há quem diga que foi um custo convencê-lo a não se proclamar responsável pelo fim do perigo do aquecimento global quando as temperaturas neste inverno caíram a níveis não registrados havia um século.
Mas o pior é que, apesar dos inegáveis sinais de retomada da atividade econômica, ela pode não ser tão sólida quanto a Casa Branca gostaria. Embora a população se diga satisfeita porque o fantasma da recessão está afastado, ela ainda não viu a recuperação se manifestar nos dois pontos que a interessam de perto: mais empregos e melhores salários.
O próprio Departamento do Trabalho reconhece que 80% do crescimento registrado em 1993 no setor industrial ocorreu não porque mais gente está trabalhando mais tempo e ganhando mais e sim porque os mesmos empregados estão produzindo mais no mesmo período de tempo que já trabalhavam.
A chave para um crescimento econômico real e sustentado é o chamado "círculo virtuoso", que compreende elevações sucessivas da renda, dos gastos em consumo, de empregos e investimentos empresariais. Não é isso que se verifica nos EUA hoje em dia.
As grandes empresas americanas, muitas delas fossilizadas por décadas de sucesso fácil, passaram por dolorosas e indispensáveis cirurgias para ganhar eficiência. Mas, como diz o prêmio Nobel de Economia Robert Solow, "não se pode esperar crescimento sustentado apenas com eficiência".
Os investimentos em pesquisa das empresas americanas, por exemplo, diminuíram em 1993 e vão continuar caindo este ano e em 1995. Na maioria delas, as pesquisas básicas e de novos produtos perderam a prioridade para a de aumento da produtividade. Na área de despesas de capital, o cenário é similar: investir para aumentar margens de lucro se tornou mais importante do que investir para fazer crescer vendas.
O déficit da balança comercial americana continua aumentando. O déficit público, embora Clinton diga que vá diminuir este ano e no seguinte, crescerá nos seguintes e muita gente duvida que mesmo a curto prazo se consiga algum resultado significativo depois que as despesas do novo plano de saúde, ainda não calculadas, começarem a ser feitas. A inflação parece sob controle, mas o receio de que estoure é tamanho que o banco central já aumentou as taxas de juros para se precaver contra ela.
Em suma: a economia dos EUA começou 1994 com as melhores perspectivas dos últimos cinco anos. Mas ninguém de bom senso espera grandes resultados dela no futuro imediato. Para este ano, por exemplo, na opinião da maioria, se o crescimento do PNB for igual ao de 1993 já terá sido muito bom.

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