São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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Menopausa é diferente para cada mulher

EVA BLAY
ESPECIAL PARA A FOLHA

É recente a discussão da menopausa pelo feminismo no Brasil. Esta lacuna não foi preenchida pela medicina nem pela psicologia. Daí prevalecerem versões e opiniões sobre tema já amplamente solucionado em países que estão superando a discriminação contra a mulher. Reli o artigo de José Aristodemo Pinotti "Menopausa é uma injustiça natural", publicado pela Folha em 17 de janeiro, para buscar as razões que levaram Lúcia Cristina de Barros, mestra em comunicação, a uma severa crítica ao que ele escreveu sobre a recente polêmica machista da maternidade tardia.
A atenta leitura que fiz confirmou que o obscurantismo em que vive a sociedade brasileira, a respeito da menopausa e do direito à maternidade voluntária, seja um dos motivos que levaram a autora a uma atitude tão defensiva. Em nenhuma linha do artigo existe a interpretação de ser a maternidade a etapa da plenitude da vida, como infere Barros. Ele defende o direito das mulheres que desejam ser mães após a menopausa. A inferência é da própria articulista e de outros que se omitiram de uma atenta leitura daquele texto.
A sociedade brasileira fala em "mulheres" genericamente e ignora que temos diferenças entre nós mesmas. Há aquelas para quem a menopausa nada acarreta, mas há outras que passam por inúmeros sofrimentos, superáveis se tratados adequadamente. Até há pouco os médicos afirmavam que a perda do sono, as "ondas de calor", dores de cabeça, suores constantes, desânimo, depressão e o desinteresse sexual na menopausa eram explicáveis por razões de ordem psicológica. Era "o ninho abandonado pelos filhos", a falta de ter o que fazer, a perda do companheiro, etc. O diagnóstico, generalizante, valia para mulheres de diferentes formações: professoras, domésticas, operárias e outras em plena atividade profissional, bem amadas ou não, com ou sem filhos. O preconceito tinha um só diagnóstico para todas, menosprezadas como falsos sintomas.
Conheço a atuação de vários médicos na área da ginecologia. Vi muitas mulheres recuperarem a alegria de viver com medicação que recompõe os hormônios perdidos na menopausa. É certo que as alterações físico-químicas por que passa a mulher no período de transição para a menopausa pode ter efeitos sobre seu comportamento. Não podemos ignorar esse fato. Ele é tão exato e inequívoco como a transformação vivenciada pelos adolescentes, com hormônios agindo a pleno vapor por todo o corpo, que também influenciam no comportamento. Por que não reconhecer que essas alterações físico-químicas e psicológicas ocorrem também no climatério?
É importante que as mulheres tenham boa qualidade de vida durante e após a menopausa. Bem-estar, vamos deixar claro, não é sinônimo de maternidade. São coisas distintas e, em determinados períodos da vida, até andam juntas. A mulher pode e deve viver sua plenitude, fazer suas opções, em qualquer fase da sua vida. O que importa é o prazer e a satisfação que pode angariar a cada ano.

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