São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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As pequenas e médias empresas e os bancos

JOSÉ ORLANDO PORTUGAL DANTI

A nova ordem universal, fundamentada em blocos econômicos, terá como resultado mecanismos de racionalização da produção favorecendo os índices microeconômicos. Por outro lado, o nível de desemprego e de subemprego aumentará e proporcionará um desajuste social nas economias modernas.
O analista deverá computar a partir de agora o conceito de "custo de oportunidade" desta mão-de-obra ociosa, pois caberá às sociedades, através de seus governos, investir para que este contingente humano sobreviva. Isto significa aumento de impostos!
A grande saída será o fortalecimento das pequenas e médias empresas, empregadoras por excelência, e que tem o papel de diminuir o custo econômico e social das hordas de desempregados.
Para tanto, a comunidade de negócios, de uma vez por todas, tem de se conscientizar da importância econômico-social dos segmentos de empresas pequenas e médias e apoiá-las. Ao governo e a sua máquina arrecadadora de impostos cabe uma reflexão sobre o custo social absorvido por estas empresas. Aos bancos cabe uma reflexão profunda de por que não segmentar seu atendimento criando produtos e serviços à empresas que movimentam cerca de 1/3 do PIB.
Conduzimos recentemente uma pesquisa junto a empresas pequenas (faturamento anual de US$ 1 milhão a US$ 20 milhões) e médias (faturamento anual de US$ 20 milhões a US$ 75 milhões). Esta pesquisa tinha como escopo detectar hábitos, atividades e expectativas com relação aos bancos.
Os resultados levam à conclusão sobre a necessidade de se segmentar o atendimento bancário, tornando-o "expert" em assuntos financeiros das pequenas e médias.
Ao ler os resultados finais, fica claro que estas esperam muito de seus bancos. Quem imaginar que a demanda é por empréstimos, equivoca-se. Ao contrário, com um panorama de inflação e juros altos, as empresas vêm evitando contrair dívidas. Estão cientes de que uma das chaves de sucesso é administrar bem seu capital de giro. Saem também que nem sempre estão preparadas a tomar decisões financeiras mais complexas e às vezes erram. O erro sempre traz consequências danosas.
A esperança destas empresas é a de contar com um bom gerente de contas, especialmente treinado a atendê-las e suprir suas necessidades financeiras. Muitos se queixam da falta de preparo dos gerentes disponíveis que, acostumados a atender pessoas físicas, não têm soluções ou mesmo sugestões que contribuam efetivamente para seus negócios.
Outros, de que os gerentes colocados à sua disposição são bons, preparados até demais para auxiliá-los dentro das limitações de uma pequena ou de uma média empresa. Porém, estes gerentes, quando acionados, não se encontram em seus postos. Inconformados, alguns empresários chegam a sugerir que estes gerentes possam ser localizados via telefonia celular ou mesmo via um prosaico "bip".
Unanimidade da amostra é que o segredo de uma correta utilização bancária reside na obstinação e na presença do banco como um parceiro real dos negócios. Poder contar com alguém que não se limite a executar o que foi pedido, mas que tenha capacidade para dialogar, para indicar novos caminhos financeiros de maneira a sanar dificuldades ou aproveitar-se melhor de oportunidades.
E aí fica uma mensagem aos grandes bancos –bem equipados com tecnologia e recursos humanos– que consideram uma segmentação no atendimento da pessoa jurídica, de modo que possa atender às necessidades do pequeno e médio empresário.
O Brasil, os bancos e a comunidade empresarial têm hoje em comum uma preocupação –diminuir o custo da mão-de-obra ociosa. Na nossa opinião, isto só será possível via criação de estímulos fiscais e orientação financeira correta ao universo das pequenas e médias empresas.

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