São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Águas minerais na berlinda

HELCIO EMERICH

Uma batalha que promete não terminar tão cedo está fazendo ferver o competitivo mercado norte-americano de águas minerais. Uma das marcas de maior reputação nos EUA, a Poland Spring, que vinha de um "boom" surpreendente de vendas a partir da década de 80, foi trombada de frente pelas autoridades do USDA (Departamento de Agricultura), um órgão que costuma interferir com rigor nos assuntos que envolvem o interesse do consumidor.
Engarrafada no Estado do Maine há quase um século, depois de criar fama de elixir milagroso, a Poland sempre trouxe em suas embalagens a expressão "spring water", que a identificada como um produto natural e lhe permite a classificação de "premium", com preços mais altos.
Eis que um aplicado comissário do USDA, Tommy Irvin (que é hidrólogo) resolveu investigar a origem da água, descobrindo que ela não era captada de uma nascente. Baseado na idéia de que a denominação "spring water" sugere ao consumidor a imagem de uma água fresca e límpida, Irvin convenceu o Departamento de Agricultura a proibir a expressão nas garrafas da Poland, sob ameaça de apreender os estoques do produto existentes nos bares e supermercados dos EUA. Para os técnicos do USDA, a composição química de uma água colhida diretamente de uma fonte é diferente daquela captada de um poço artificialmente perfurado, mesmo quando esse poço fica localizado sob a nascente, como era o caso da Poland. A rixa acabou numa corte do Estado da Georgia e chamou a atenção das autoridades de outros Estados, onde engarrafadores utilizam a mesma classificação.
Para reforçar sua defesa, a Poland trouxe para a briga a poderosa Perrier, que controla a empresa, além de comercializar duas outras águas mais vendidas no mercado norte-americano –Great Bear e Arrowhead. A Perrier recebeu apoio de um "inimigo", o Grupo Suntori, mas a solidariedade do concorrente japonês não foi desinteressada: distribuindo as águas Kentowood, Polar e Belmont, a Suntori engarrafa também a marca Crystal Spring, cujo nome pode significar idêntica complicação. A disputa chega em mau momento para o setor nos EUA. Nos últimos três anos, as vendas das grandes marcas praticamente estacionaram.

Texto Anterior: Procura-se presidente atrevido
Próximo Texto: O Nafta e o franchising
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.