São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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Sucessão põe fim a grupos familiares

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Até o ano 2000, o Brasil deve assistir o fim de grandes grupos familiares. A previsão para os próximos anos é a de que pelo menos 200 das maiores empresas brasileiras controladas por famílias tenham que enfrentar o processo de sucessão no seu comando. Está aí, na análise de especialistas do tema, a causa principal do desmoronamento dos grupos familiares.
A briga entre herdeiros para ocupar cargos importantes nas empresas deve se intensificar nos próximos anos, prevêm consultores para sucessão em empresas familiares, porque será um período em que vai coincidir a necessidade de troca de comando de vários grupos que nasceram a partir dos anos 50.
Se for levado em conta o que já se viu no Brasil até agora, diz Renato Bernhoeft, diretor da Organizações Bernhoeft Associados, as empresas familiares tendem a sumir. Segundo ele, em 92, 251 empresas familiares foram compradas por multinacionais ou instituições financeiras –número 30% maior que em 91.
Nos seus cálculos, este número deve ter crescido 10% em 93. Para se ter uma idéia de como esses grupos familiares estão se dissolvendo, continua ele, vale lembrar que, em 1985, só 36 dessas empresas foram vendidas. "Por trás disso está a questão da sucessão e a disputa pelo poder entre os herdeiros."
Os consultores citam algumas empresas que passaram por essa experiência: a Papel Simão, que foi adquirida pelo grupo Votorantim; a Bombril, pela Cragnotti & Partners; a Tostines, pela Nestlé; a Cica, pela Gessy Lever; a Artex, pelo grupo Garantia e a Phebo, pela Procter & Gamble.
Adiar decisões
Boa parte dos grupos familiares brasileiros, ainda segundo especialistas, tenta adiar discussões sobre sucessão por várias razões: porque o fundador ainda está vivo, porque ainda existe uma figura forte no comando da empresa, porque tem dificuldade de tratar o tema antecipadamente e também porque o grupo ocupa posição confortável no mercado já que é monopolista.
Consequência: "As empresas familiares vão diminuir significativamente de tamanho, serão forçadas a se concentrar em poucos produtos, e, em alguns casos, correm mesmo o risco de desaparecer", diz Bernhoeft. Nos próximos anos, continua ele, esses grupos familiares estarão à prova porque vão ter que participar de um mercado cada vez mais competitivo ao mesmo tempo em que vão ter que mexer na figura que os comanda.
Para Luiz Cézar Fernandes, presidente do Banco Pactual, as empresas familiares que não tratarem de forma pacífica a questão sucessão vão cair nas mãos do que ele chama de capitalistas anônimos –que são os grandes fundos de pensão e os fundos mútuos. Segundo ele, é importante que o processo de troca no comando da empresa seja bem feito e harmônico porque quando a economia brasileira retomar o crescimento a empresa tem na presidência uma figura com vitalidade para tomar decisões rápidas e arrojadas.
"Com um mercado mais aberto é importante que a empresa passe pelo processo de sucessão no seu comando sem traumas. Um sucessor precisa ter agilidade e legitimidade. Só assim a empresa vai ter sucesso", completa Bernhoeft.
Disputa acirrada
A disputa entre herdeiros pelo comando das empresas deve se intensificar até o final da próxima década, na análise de consultores. Um exemplo, citam, é a Cofap, comandada por Abraham Kasinski. Kasinski e os filhos Roberto e Renato não se entendem. Só se comunicam através de seus advogados.
A empresa informa através da sua assessoria de imprensa que o acordo entre o pai e os dois filhos ainda não saiu. "Mas a Cofap é completamente profissionalizada. É formada por uma diretoria corporativa composta por cinco profissionais recrutados no mercado e que tocam as áreas vitais da empresa. Portanto, independente de qualquer processo sucessório, a Cofap tem estabilidade para se manter na rota do crescimento. Prova disso são os resultados obtidos nos últimos anos."
"Se os herdeiros não se entenderem acionariamente vão perder o controle das empresas. Os grupos financeiros olham as empresas familiares como um bom negócio de investimento porque em muitos casos para resolver os conflitos familiares eles vendem as empresas por preços abaixo do mercado", diz Bernhoeft.
Na sua análise, os grandes grupos familiares cometem equívocos porque consideram que se resolverem a questão do comando da empresa está tudo definido. "Mas não é bem assim. A divisão societária entre os herdeiros é importante. A recomendação que faço é a de que os herdeiros se entendam primeiro como acionistas. Em seguida, discutam quem fica no comando."

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