São Paulo, segunda-feira, 7 de fevereiro de 1994
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Sem o guitarrista, a música moderna não seria a mesma

RICHARD GEHR
DA "SPIN"

No verão entre o ginásio e o colegial –quando fumei um baseado e quase perdi a virgindade– meus amigos e eu fomos apresentados ao então recém-lançado "Freak Out", de Frank Zappa (1940-1993). Éramos exatamente a espécie de mutantes infectados pela mídia a que Zappa se dirigia em letras como "What's the Ugliest Part of Your Body?" ("Qual é a parte mais feia do seu corpo?").
O rock mainstream já havia nos enchido. Mas não a mistura que Zappa fez do doo-woop, do jazz moderno, da ópera e do rhythm'n'blues, que ele combinou com a força criativa de mestres modernos como Igor Stravinsky, Edgar Varese e Anton von Webern.
Anos antes Zappa já havia demonstrado seu engajamento. Que surpresa vê-lo transformado em uma quase-estrela em 1990, quando Vaclav Havel pediu-lhe ajuda para conduzir a Tcheco-Eslováquia para o capitalismo. Nenhum outro pop-star teve peito para enfrentar o Parents' Music Resource Center (as "senhoras de Santana" dos EUA) no Congresso. A última turnê de Zappa incluiu até uma campanha de alistamento eleitoral.
Mas foi no limite da música pop e da música séria que Zappa mais se destacou. Uma das últimas apresentações dele foi uma elegia especial à elegância. Refiro-me a sua bagunçada versão de '4min33" de John Cage, em "A Chance Operation: The John Cage Tribute". Tenho certeza de que ambos os compositores formariam uma conjunção irônica –a obra-prima minimalista de Cage sendo interpretada pelo maior maximalista– se eles não estivessem, digamos, mortos.
Zappa era mesmo um compositor americano, assim como um guitarrista inspirado, líder de banda, produtor, fazendeiro, sociólogo e humorista. Sua carreira deixou um saldo de 60 discos em 27 anos. Sem Zappa, a maioria das músicas sobre as quais você lê por aí simplesmente não existiriam ou seriam completamente diferentes.

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