São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
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Pérolas do vazio

JANIO DE FREITAS

Além de desnecessária, a apresentação do ministro Fernando Henrique em rede nacional variou entre o óbvio e a inverdade, quando escapou do vazio. Desnecessária porque desde quinta-feira, pelo menos desde então, ele recebeu do PPR de Maluf, do PFL e do PMDB a garantia de que hoje aprovariam o plano, dependendo apenas de que fossem logo formalizada as alterações que sugeriam. Já na sexta-feira, o assessor Edmar Bacha acertou os pontos pendentes com o PPR, em reunião no Rio.O ministro não cedeu "tudo o que era possível". Na visão do PSDB, de integrantes da própria equipe e dos partidos que repeliam partes do plano, cedeu o que era impossível ceder sem desfigurar o projeto apresentado ao Congresso. Basta ver, neste sentido, o esvaziamento completo do sacrifício que o projeto pretendia impor aos Estados e Municípios. Disse Fernando Henrique, na rede nacional, que esta concessão foi feita "porque eles (estados e municípios) necessitam". E por que o ministro propôs sacrificá-los e na discussão deste ponto do seu projeto foi perdido tanto tempo e acumuladas tantas tensões? Esta seria uma explicação boa para a rede nacional. Não veio, nem podia.É óbvio que o Congresso pode decidir "dizendo sim ou não". O que não deve é deixar de fazer o que fez agora: discutir, propor, negociar e só então admitir a aprovação. Que suas propostas sejam louváveis ou não, é outro assunto. Mas já no começo de suas referências ao Congresso o ministro mostrou o vazio de suas razões televisivas: ele começou pela crítica à aprovação de outros planos econômicos, no Congresso, sem sequer os discutir. E por que, quando há a discussão, insinua ele com sua saída de campo, lança acusações ao Congresso, para culminar ocupa e nos ocupa em rede nacional?As alegações de que "quem vai pagar a conta são os que ganham mais de cinco milhões" o aumento de imposto para a classe média é "bem menos de 2%", ou, só para mais um exemplo, "estados e municípios fizeram acordo e estão pagando suas contas em dia" – estas e outras afirmações provêm do lado crescentemente demagogo de Fernando Henrique. E demagogia é inseparável de mentira. E desnecessidade de cometê-la.

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