São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
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Dívida é de grande produtor

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Dados recentes do Banco do Brasil mostram que os devedores do crédito rural não são pequenos agricultores. Indicam ainda que os recursos emprestados aos produtores rurais não vêm de depósitos à vista não remunerados. Essas informações contrariam os argumentos dos parlamentares que defendem o decreto legislativo, já aprovado na Câmara dos Deputados, que manda devolver aos produtores toda a correção monetária que pagaram desde 79.
No ano passado, foram emprestados US$ 9,7 bilhões aos produtores. Pouco mais de 75% dessas operações foram feitas pelo Banco do Brasil. A metade do dinheiro (US$ 4,6 bilhões) veio da Poupança Verde, caderneta de poupança do BB que remunera os aplicadores pelas taxas normais.
Outros US$ 1,2 bilhão vieram do Tesouro Nacional e se destinaram a pagar subsídios aos mini e pequenos produtores. É, portanto, dinheiro que veio de impostos e o empréstimo já embutiu subsídio, ou seja juros e correção monetária abaixo da inflação.
Os restantes US$ 3,8 bilhões que completaram o crédito rural do ano passado vieram de variadas fontes, inclusive de depósitos à vista não remunerados pelo banco.
Dados do Banco do Brasil indicam também que 30% das dívidas rurais pertencem a produtores de soja, cujo preço é sempre negociado em dólar, imune, portanto, às variações da correção monetária em cruzeiros. Sem contar que a cultura de soja é controlada por médios e grandes produtores.
O projeto de decreto legislativo que manda os bancos devolverem a correção monetária aos produtores rurais deve ser votado hoje na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Se aprovado, o Banco do Brasil torna-se devedor de uma quantia que pode passar dos US$ 90 bilhões. E quebra.

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