São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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PT decide manter veto à revisão até dia 17

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Executiva do PT tomou uma decisão dúbia sobre a participação da bancada do partido no Congresso revisor. A cúpula permitiu, em caráter excepcional, que os parlamentares da legenda entrassem na discussão e votação de pontos do Fundo Social de Emergência, mas manteve pelo menos até o dia 17 o veto à participação em qualquer outra questão do Congresso revisor.
Mesmo o tom ambíguo da resolução, que remete qualquer eventual mudança para a próxima reunião da Executiva, não assegurou a ela uma aprovação consensual. O "muro petista" teve 14 votos a favor. A ala que defendia maior liberdade para a bancada ficou com cinco votos e a proposta que encerrava qualquer possibilidade de o partido participar da revisão contou com um solitário aval. Luiz Inácio Lula da Silva foi o único ausente na consulta. Segundo sua assessoria, Lula voltou gripado da viagem à Amazônia.
Votaram a favor da proposta vencedora os grupos Hora da Verdade, Democracia Socialista, Força Socialista, Vertente Socialista e a maioria da corrente Articulação, que é liderada por Lula. O setor que queria maior autonomia para a bancada foi formado pelos deputados Aloízio Mercadante (SP), José Fortunati (RS), senador Eduardo Suplicy e os dois representantes da tendência do deputado José Genoino (SP). A posição mais radical foi defendida pelo grupo trotskista "O Trabalho".
O grupo mais ligado a Lula aceitou apoiar o "muro petista" na esperança de convencer outros setores até o dia 17. Lula é favorável a dar maior autonômia à bancada, que em grande parte deseja participar das votações agora que avalia ser inevitável o avanço dos trabalhos na revisão. A solução provisória foi negociada pelo deputado estadual paulista Rui Falcão, que controla a maioria da Executiva, e um grupo de parlamentares.
A nota que comunica a decisão custou quase dois dias inteiros para ser construída. Ela reafirma a defesa da obstrução para inviabilizar ou restringir o alcance da revisão, mas estabelece como meta que os trabalhos sejam encerrados até o dia 15 de março. Abre aí a brecha para uma mudança de posição no dia 17, mas condiciona a possibilidade a uma "agenda máxima", que será tentada pela bancada em negociações com outros partidos.
"Não aceitamos tocar na Ordem Econômica e nem nos direitos sociais", disse Falcão. Mesmo a "agenda máxima" terá a negociação monitorada pela Executiva. A avaliação do grupo hegemônico no PT é que dificilmente um acordo com outros partidos manterá fora da discussão pontos que o partido não abre mão, como por exemplo os monopólios nas áreas de petróleo e telecomunicações.
No dia 17, a Executiva vai também decidir sobre os pontos que ainda estão pendentes no esboço do programa de governo que será defendido por Lula. As principias polêmicas estão concentradas na adoção ou não da moratória como princípio na negociação da dívida externa e na concepção política que prega investimento pesado de recursos nas Forças Armadas, embora sem especificar o volume de dinheiro que seria destinado à área.

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