São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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Supermercados pagam mais 44% nas compras

Empresários atribuem alta à expectativa da URV

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

As negociações entre indústria e comércio estão marcadas pela expectativa de mudanças na área econômica. As empresas que abastecem os supermercados aumentaram 44%, em média, os seus preços. A previsão era de que esses reajustes não passariam de 40% porque o comércio já está abastecido e a demanda é tradicionalmente fraca neste mês.
"Isso está acontecendo por causa da expectativa da implantação da URV (Unidade Real de Valor)", diz Lincoln da Cunha Pereira, presidente da Associação Comercial de São Paulo.
O supermercado Santa Luzia já decidiu: vai diminuir as compras neste mês. Jorge Lopes, diretor, informa que as encomendas às indústrias vão ser 5% menores em fevereiro, na comparação com janeiro.
"As tabelas com preços altos refletem a desconfiança dos empresários em relação à URV", afirma Firmino Rodrigues Alves, vice-presidente da Apas (Associação Paulista dos Supermercados). Mas, segundo ele, a indústria não terá chance para fortes reajustes porque o consumo está fraco.
Os supermercados estão "segurando" as compras porque este é um mês mais curto, tem feriado (Carnaval) e instabilidade econômica. Os prazos negociados entre eles e a indústria, diz Rodrigues Alves, já são os mais curtos da história do setor. Para as empresas de bebidas, limpeza e fornecedores de carnes, os supermercados têm 15 dias para efetuar o pagamento. "Quanto aos outros produtos, temos no máximo 21 dias para pagar pelas mercadorias mais representativas das gôndolas."
As taxas de juros praticadas pelas indústrias, diz o vice-presidente da Apas, é um dos pontos de forte negociação. Segundo Rodrigues Alves, elas chegam a 48% ao mês. Em janeiro, continua ele, giravam em torno de 44%, no máximo.
O efeito URV também está atrapalhando as negociações entre a indústria eletroeletrônica e suas revendas. Um representante de uma importante empresa de eletrônicos, que prefere não se identificar, informa que desde a última quinta-feira as negociações com clientes e fornecedores estão paralisadas.
Essa indústria cortou o prazo de pagamento neste mês. Agora só vende em 30 dias com taxa de juros prefixada. Após esse período, as revendas terão de aceitar uma taxa de juros pós-fixada. O prazo de pagamento que praticava com taxa de juros prefixada ia até 45 dias.
Michael Klein, diretor da Casas Bahia, decidiu que só vai procurar a indústria após o Carnaval. "Ainda tenho estoque equivalente a 45 dias de vendas." João Alberto Ianhez, diretor de relações públicas da Arapuã, informa que as compras da empresa neste mês serão menores do que as do mês passado. "É evidente que a expectativa de novas ações do governo afeta as negociações."
Para Ronald Rodrigues, diretor de assuntos corporativos da Gessy Lever, fevereiro é sempre um mês atípico porque é curto e de baixa demanda. Neste ano, afirma, pesam ainda o efeito URV e o fato de se ter modificado o cálculo do ICMS. "Mas isso não é tão dramático assim. Não deve provocar paralisação total das negociações."

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