São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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China confirma presença de pop art política

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

A China confirmou os nomes participantes da 22.a Bienal. É a primeira vez que o país faz parte da Bienal de São Paulo. Os artistas representantes são Yu Youhan, 50, Wang Guangyi, 37, e Li Shan, 49. Ainda está em negociação o nome de Deng Lin, a filha do primeiro-ministro Deng Xiaoping.
A presença da China foi negociada pelo diretor da Bienal Jens Olesen com uma galeria sediada em Hong Kong, a Hanart TZ. Na Alemanha, em 1993, Olesen viu uma grande exposição de arte chinesa contemporânea, "China Avant-Garde", com 25 artistas, realizada pela TZ.
Os três nomes confirmados para a Bienal de São Paulo estiveram na Bienal de Veneza no ano passado. O trabalho dos três poderia ser definido como "pop art política". O retrato que Youhan fez de Mao Tsé-Tung, "Imagem Dupla" (1992), ficou bastante conhecido no Ocidente. Mostra o líder chinês em meio a flores e outros padrões decorativos. Faz parte de uma série que o artista fez sobre Mao e sua família.
Guangyi participou de "China Avant-Garde" com uma tela que também foi bastante reproduzida nas reportagens das revistas ocidentais, "McDonald's", que mostra dois soldados chineses em frente à logomarca da rede de lanchonetes. Coca-Cola é outro nome de produto com que Guangyi lida.
Li Shan, dos três, é o que mais foge do retratismo pop. Sua pintura tenta efeitos emocionais e mesmo oníricos, como em "Diálogo Internacional", que ironiza as relações entre Rússia e EUA.
O uso da pop art por artistas chineses já é em si irônico. A pop art nasceu nos Estados Unidos na década de 60, com a proposta de discutir a comunicação de massa, utilizando ícones e técnicas da mídia. O retrato de Mao por Youhan remete diretamente ao de Marilyn Monroe por Andy Warhol, ainda que este seja em serigrafia e aquele, em óleo sobre tela. E a predominância de temas e referências políticas também é irônica, porque a pop art não se pretendia politizada, ideológica, mesmo que a bandeira dos EUA tenha sido um ícone recorrente nos trabalhos.
Mas é fácil de compreender essas ironias da história. A arte chinesa sofreu um "boom" qualitativo e quantitativo depois do fim do socialismo na Rússia e no Leste Europeu, em 1989, ano em que ocorreu na China a chamada "Primavera de Pequim", terminada no massacre da praça Tianamen. O modo de vida americano foi uma das grandes influências do movimento. (Daniel Piza)

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