São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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Mostra renovará arte brasileira, afirma curador

DANIEL PIZA

DANIEL PIZA; MARIO CESAR CARVALHO; BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O curador Nelson Aguilar disse ontem à Folha que a escolha dos 23 artistas representantes do Brasil é abrangente e não comete nenhuma grande injustiça. Aguilar acha que nomes novos serão revelados ao grande público e que o conjunto de artistas escolhidos demonstra uma consciência internacional na prática da arte brasileira.
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Folha - Por que a Bienal decidiu fazer homenagem a Iberê Camargo e o que se terá nela?
Nelson Aguilar - Porque ele é um dos artistas mais importantes do país, vivo. Vai completar 80 anos à época da Bienal. Sua pintura vem sempre se renovando desde que ele começou, nos anos 40, e ele é o melhor exemplo de que a arte brasileira é autônoma, tem estilo próprio, e ao mesmo tempo é sintonizada com o que de melhor acontece no exterior. Ele vai mostrar pinturas grandes de 1994.
Folha - Dos 23 representantes do Brasil, 14 nunca participaram da Bienal de São Paulo, e há muitos que são bem pouco conhecidos do público, que jamais fizeram exposições individuais. Serão revelações?
Aguilar - É função da Bienal renovar a arte brasileira e mostrar sua renovação. Acho que a 22.ª Bienal vai revelar uma série de grandes artistas brasileiros para o circuito internacional. Quisemos fazer o que se poderia chamar de rotação do carisma, tirando nomes significativos neste momento da arte brasileira, como Jac Leirner e outros, para trazer novos.
Folha - Da geração que está com 50, 60 anos, apenas Antonio Dias foi chamado. Por quê?
Aguilar - Porque ele é um artista que se consagrou no exterior, em especial na Alemanha, e o conceito desta Bienal envolve o de nomadismo cultural. Assim como a Márcia Grostein, ele é um pioneiro na afirmação no mercado internacional. Temos nomes novos como Yiftah Peled, Fernanda Gomes e Francisco Faria que têm esse porte internacional.
Folha - Mas por que você escolheu artistas consagrados no exterior, como Saint-Clair Cemin e Tunga, e não Jac Leirner?
Aguilar - Porque Saint-Clair Cemin foi revelado na Documenta de Kassel de 1992, inclusive para o próprio Brasil. Os outros brasileiros que estavam na Documenta já eram nomes conhecidos aqui e mesmo no exterior. A Rosângela Rennó, para dar outro exemplo, esteve no "Aperto" da Bienal de Veneza de 1993. Ou seja, foi convidada por eles, e não indicada pela Bienal de São Paulo.
Folha - Seis dos artistas escolhidos residem hoje no exterior. Isso é proposital?
Aguilar - Sim. Esses artistas se afirmaram no circuito mundial, o que é muito difícil. A vivência da arte brasileira em outro contexto cultural produz resultados que interessam muito a essa Bienal porque interessam muito em questões centrais da arte contemporânea. Nesse sentido, é uma Bienal radical.

Colaboraram MARIO CESAR CARVALHO

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