São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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Ocidente prepara ultimato para sérvios

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

Ocidente prepara últimato para sérvios
Europeus não chegam a acordo para ação militar e devem dar prazo de 10 dias para fim do cerco a Sarajevo
Os países ocidentais devem dar hoje um ultimato de dez dias para que os sérvios acabem com o cerco a Sarajevo, a sitiada capital da ex-república iugoslava da Bósnia-Herzegóvina. A decisão será anunciada após uma reunião da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos), nesta manhã em Bruxelas. Isso afastaria a possibilidade de uma intervenção militar imediata na região.
O ultimato foi proposto ontem pela França e ganhou apoio dos demais países europeus. A medida é uma resposta ao ataque sérvio que matou quase 70 pessoas no sábado em Sarajevo.
A opção pelo ultimato indica, porém, que os líderes europeus não conseguiram chegar a um consenso sobre uma possível ação militar contra os sérvios. O governo dos Estados Unidos já deixou claro que espera por uma decisão política da União Européia (antiga Comunidade Européia) e que não vai agir isoladamente.
Os países ocidentais já ameaçaram várias vezes usar a força para acabar com o massacre de civis e impor um cessar-fogo na Bósnia. Há uma grande pressão da opinião pública para que a Europa reaja ao genocídio. Estima-se qua mais de 200 mil pessoas já morreram na guerra civil iugoslava, que já dura dois anos e meio.
Após o ataque de sábado, os líderes europeus renovaram as ameaças militares aos sérvios. Países importantes, como a Alemanha, temem, porém, que uma intervenção da Otan vá piorar ainda mais a situação e criar uma espécie de Vietnã europeu.
Há duas opções militares. Ataques aéreos a posições sérvias ao redor de Sarajevo não implicariam um envolvimento grande no conflito, mas poderiam ser infrutíferos e provocar a retaliação contra soldados da ONU na Bósnia. Isso também implicaria no virtual bloqueio da ajuda humanitária, o que afetaria a população civil em pleno inverno.
Outra possibilidade é a intervenção militar em larga escala, com tropas em terra. As chances de conter a guerra seriam maiores, mas a operação teria um altíssimo custo e poderia envolver os países europeus numa guerra de guerrilha prolongada, com numerosas baixas.
A opção pela intervenção militar também é condenada pela Rússia e pela Ucrânia, duas potências nucleares tradicionais aliadas dos sérvios. A Rússia pode impedir qualquer operação militar com seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, o que criaria uma crise diplomática.
Por tudo isso, o mais provável é que os países europeus continuem tentando ganhar tempo para promover uma improvável negociação de paz entre as três partes em conflito na Bósnia: sérvios, croatas e muçulmanos.

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