São Paulo, quarta-feira, 9 de fevereiro de 1994
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A fase do cacife

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A campanha eleitoral entrou na fase que se poderia batizar de montagem de cacife. Exceto no caso de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não precisa disputar a indicação com quem quer que seja, todos os demais partidos/candidatos necessitam demonstrar que têm uma força superior à que demonstram a olho nu.
Caso, por exemplo, de Paulo Maluf (PPR), que saiu anunciando a montagem conjunta de um programa de governo entre PPR e PFL, para o que seriam depois chamados PL, PP e PTB. O problema de Maluf é que, sozinho, suas chances eleitorais são consideradas precárias pelos setores conservadores. Então, era preciso demonstrar um cacife superior ao único que de fato o prefeito pode comandar sem sobressaltos, que é o PPR.
O troco veio anteontem, pela boca do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, ao descartar o trabalho conjunto com o PPR. Também tem toda a lógica: enquanto o cenário eleitoral for tão pouco nítido como o é hoje, cada partido médio ou grande imagina poder lançar candidatura própria e não há, portanto, razão alguma para antecipar uma aliança que, em princípio, beneficiaria Maluf, mais candidato do que o "candidato natural" do PFL, o governador Antônio Carlos Magalhães.
Orestes Quércia, ao autolançar-se candidato, também está montando cacife. Sabe que o seu PMDB está dividido entre as hipóteses de candidatura do próprio Quércia, do ex-ministro Antônio Britto e do governador Luiz Antônio Fleury Filho, com o ex-presidente José Sarney correndo por fora. Ao dar o grito de candidato, Quércia tende a atrair fichas para o seu cacife interno, ao mesmo tempo em que bloqueia as conversas (incipientes) sobre alianças do PMDB com outros partidos, em especial o PSDB.
O sistema de eleições em dois turnos induz a esse comportamento, ao menos no que se refere aos partidos. Se há um segundo turno, por que não tentar ganhar no primeiro, deixando para o segundo o acordo com quem sobrar na disputa? O problema é que essas alianças de última hora tendem a criar um governo fraco, engessado por alianças de conveniência que facilitam a vitória mas dificultam a gestão do ganhador.

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