São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cobertura de bailes lembra Missa do Galo

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DO MAIS!

Nada mais chato do que Carnaval na televisão. Se ao vivo a "folia" momesca exige um mínimo de adesão para ser encarada como alguma coisa pouco menos que estapafúrdia, na TV não tem como: a desanimação faz parte do espetáculo.
Com exceção, talvez, do desfile das escolas de samba do Rio, não há nada mais para ser visto. Os tais "bailes" que invariavelmente preenchem a programação das emissoras madrugada adentro são de um tédio, de uma falta de ritmo, de uma sonolência que lembram as inacompanháveis missas do galo –no caso, pagãs e frequentadas pelas galinhas– de finais de ano.
O mais constrangedor é o esforço das TVs para tentar transformar em atração os infindáveis bailes carnavalescos que, não se sabe por que, insistem em transmitir. A imagem não mente: uma multidão de beócios e um festival de "modelos" (moças educadíssimas e muito "espontâneas") desfilam na tela, em requebros burocráticos, que mal se empenham em simular alguma euforia.
Senhoras apavorantes, homens apavardados e bandinhas torturantes revezam-se no vídeo pateticamente. E os repórteres (ou "convidados") tentando convencer o pobre espectador de que está diante de uma manifestação verdadeiramente "alegre e típica" do animadíssimo espírito nacional.
Poucas coisas soam com tamanha falsidade quanto a fala dos repórteres nos bailes transmitidos pela TV: "Estamos aqui nesta animação incrível no salão do Scala", "Os cariocas continuam mostrando que esta cidade é mesmo maravilhosa", "O Rio está de parabéns" –e por aí vai o desfile de bobagens que anualmente se repete na TV.
Quem viu o tal Baile da Mangueira, transmitido na madrugada de quarta para quinta já teve uma boa mostra do que nos espera. Com a única "novidade" de apresentar ao lado das "modelos" um bando de musculosos rapazes de vida aparentemente fácil, a "folia" que aconteceu no Scala –casa do insólito Chico Recarey, um tipo estranhíssimo, que foi, mais estranhamente ainda, homenageado pela Mangueira– foi de fazer criancinha dormir.
Até aqui, nada aconteceu que mereça atenção. Excetuando-se, claro, a presença de Cláudia Liz como apresentadora da Bandeirantes –ou "Band" como a rede parece querer ser chamada. Sem ser exatamente um exemplo de coordenação motora e eficiência jornalística, ela preenche, evidentemente, uma lacuna. Pena que a tal "Band" deixe a moça o tempo inteiro parada no estúdio e em plano americano.

Texto Anterior: Aposentado despreza tradição
Próximo Texto: Escolas desfilam para caçar patrocínio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.