São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 1994
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Hopkins segue seu caminho estelar

CARLOS EDUARDO LINS E SILVA
DE WASHINGTON

O público norte-americano sempre teve atitude de respeitosa deferência em relação a atores ingleses e essa simpatia muitas vezes se expressou na outorga de Oscars a muitos deles. Poucos, no entanto, conseguiram tamanha admiração como a desfrutada agora por Anthony Hopkins.
Pelo terceiro ano seguido ele está na lista dos cinco indicados para o Oscar de melhor ator por sua atuação em "Vestígios do Dia". Dois de seus filmes estão em cartaz nos EUA com grande sucesso de crítica e público: "Vestígios do Dia", de James Ivory, e "Shadowlands", de Richard Attemborough.
Mais importante do que isso para Hopkins: os aplausos a seus desempenhos dos dois filmes são unânimes e superlativos. Mesmo quem acha "Shadowlands" melodramático ressalta que os dois atores principais têm atuação soberba que justifica a audiência ao filme.
Sir Anthony Hopkins, 56, é famoso e respeitado pelo menos desde 1980, quando fez "O Homem Elefante". Mas o prestígio de que agora goza, comparável apenas ao atribuído a Laurence Olivier, começou a se consolidar a partir de "84 Charing Cross Road" (que no Brasil ganhou o inacreditável título de "Nunca Te Vi, Sempre Te Amei"), de 1987.
"84 Charing Cross Road", de David Jones, tinha enredo que em alguns pontos lembra o de "Shadowlands", o mais recente êxito de Hopkins: amor irrealizável entre um britânico e uma americana maduros e cultos que têm nenhum ou muito pouco tempo de convivência física.
"Shadowlands" é daqueles filmes em que quase ninguém consegue conter o choro, ainda mais porque se sabe que a história é real. Hopkins vive o professor C. S. Lewis, famoso nos anos 50 pelos seus livros infantis e tratados teológicos, solteirão convicto, reservado, tímido, contido, que conhece uma poeta americana bonita e extrovertida por quem se apaixona.
Mas a mulher, Joy Greshan (Debra Winger, também excelente), tem câncer e poucos meses de vida. Um filho dela, de oito anos, a mesma idade de Lewis quando sua própria mãe morreu, completa o quadro do drama. Cair na pieguice com uma situação dessas é a coisa mais fácil do mundo. Mas Hopkins e Winger trabalham com tamanha dignidade que isso não acontece nunca.
Para muitos críticos, o papel de Lewis é o melhor da carreira de Hopkins. Mas isso também foi dito à exaustão quando "The Remains of the Day" foi lançado. Nele, Hopkins faz um mordomo, Stevens, que serve a um nobre britânico com inclinações nazistas às vésperas da Segunda Guerra Mundial. O papel de Stevens é dos mais difíceis para qualquer ator.
Ao contrário do psiquiatra canibal de "O Silêncio dos Inocentes", que lhe rendeu o Oscar de 1991, Stevens exige de Hopkins uma interpretação quase sem palavras ou gestos expansivos. Ele tem de transmitir as emoções do personagem, que as disfarçava sempre por dever e vício profissionais, por meio de sutis expressões de rosto ou de corpo e se sai muito bem.
Hopkins merece o sucesso de que agora usufrui. Seu talento é indiscutível e foi pena que levasse tanto tempo para ser dimensionado de acordo com sua grandeza. Filho de um padeiro do País de Gales, ele entrou para o mundo do teatro pela Associação Cristã de Moços. Estreou no cinema no papel de Ricardo Coração de Leão em "Um Leão no Inverno", de 1967.
Gastou boa parte dos anos 70 e 80 em especiais para a TV americana que lhe deram dois prêmios Emmy, o correspondente ao Oscar na televisão. Também trabalhou na TV e no teatro britânicos, inclusive com seu ídolo, Laurence Olivier. Hopkins é casado e tem uma filha de 25 anos de casamento anterior.

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