São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 1994
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Fracassa cúpula entre EUA e Japão

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e o primeiro-ministro do Japão, Morihiro Hosokawa, não conseguiram ontem chegar a um acordo sobre como reduzir o déficit comercial norte-americano na balança comercial dos dois países.
Em entrevista coletiva na Casa Branca após almoço e quatro horas de conversas (uma além do previsto), nenhum dos dois quis antecipar quais serão seus próximos passos nas difíceis relações entre EUA e Japão.
O fracasso da primeira reunião de cúpula entre os dois após o encontro da Apec (Associação de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico), dezembro passado em Seattle (Costa Oeste), prejudica mais a Hosokawa, que acaba de passar por sérias dificuldades políticas em seu próprio país. Para Clinton, o impasse pode render dividendos políticos.
Franqueza
O presidente não mentiu quando disse em público a Hosokawa que "os americanos estão fartos do déficit comercial com o Japão" e que "é difícil explicar a mesma coisa a eles, entra ano e sai ano".
Desde 1980, 30 acordos comerciais foram celebrados entre Estados Unidos e Japão. Mas o déficit comercial norte-americano com o Japão só cresceu. No ano passado, chegou perto dos US$ 60 bilhões.
O ponto sobre o qual não se chegou a um entendimento ontem foi o pedido dos Estados Unidos para que se estabeleçam "padrões objetivos" para medir o aumento das exportações norte-americanas. Hosokawa classificou a proposta de Clinton como "comércio gerenciado", um eufemismo que o governo dos Estados Unidos usa para designar suas medidas de conteúdo protecionista.
Clinton repetiu várias vezes que não está "em busca de quotas, mas sim de justiça" e que preferia não fazer tratado nenhum a assinar "acordos vazios".
As negociações para acabar com o impasse foram suspensas às 4h de ontem (7h em Brasília). Elas haviam sido retomadas graças a um pedido pessoal de Hosokawa a Clinton logo após sua chegada a Washington, anteontem à noite.
Apesar de severa tempestade de gelo e neve, o responsável pelo comércio exterior dos Estados Unidos, Mickey Kantor, e o ministro do Exterior do Japão, Tsutomu Hata, voltaram a conversar a partir da 1h, após dois dias de malogros.
Empatia
Apesar dos problemas, Clinton e Hosakawa trocaram muitos elogios e pareceram ter relação pessoal melhor do que a do presidente com o antecessor do premiê, Kiichi Miyazawa (ver texto ao lado).
Funcionários do governo dos EUA dizem que seu país pode adotar medidas de retaliação contra os japoneses, o que resultaria em guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Clinton, porém, não fez ameaças desse tipo na coletiva de ontem. Disse não saber o que vai acontecer e que vai entrar num "período de reflexão". Hosokawa afirmou que agora "é preciso esfriar".
Em outros assuntos, Clinton e Hosakawa disseram ter se entendido. Por exemplo, os dois reafirmaram seu compromisso com a desnuclearização da península da Coréia e concordaram com a possibilidade de aplicar sanções econômicas contra a Coréia do Norte caso ela resolva construir armas nucleares.
Outro acordo fechado ontem foi o de se estabelecer um fundo de US$ 12 bilhões para ajudar países em desenvolvimento a controlarem o crescimento de suas populações e a resolverem problemas ambientais.

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