São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 1994
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Como ser calhorda

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Poucas pessoas encarnam com tanta perfeição a calhordice na política como Miriam Cordeiro, a ex-namorada de Luiz Inácio Lula da Silva, com quem teve a filha Luriam. A Folha revelou ontem que ela está para lançar um livro, contendo mais acusações pessoais. A calhordice está, especialmente, num ponto: o momento em que escolhe para chamar a atenção contra Lula.
Ela escolheu o momento ideal para se promover e ganhar holofotes: a sucessão presidencial. Não é está procurando justiça, mas faturar em cima de seu relacionamento com Lula. É um gesto frio e calculado de quem trama para obter vantagem.
Na sucessão presidencial passada, em 1989, ela veio a público para dizer que Lula sugeriu-lhe fazer aborto. Não topou. Só esqueceu de dizer que, ao contrário de muitos homens, Lula assumiu a filha, com que tem ótima relação. Ao contrário de sua relação com a mãe. De longe, foi a maior baixaria patrocinada por Fernando Collor.
As "revelações" foram recompensadas: ganhou dinheiro. Aliás, muito dinheiro. E, agora, está dizendo, no fundo, que tem mais "mercadoria" para oferecer –uma mercadoria com especial valor, de fato, num ano eleitoral, onde a procura por informações (verdadeiras ou não) que prejudiquem um candidato está em alta.
Causa indignação que uma pessoa tão indigna ainda consiga fazer parte de um processo eleitoral. Indigna, em particular, porque, como mãe, não se importa em expor a própria filha. É quase inacreditável. Miriam Cordeiro ajudou a eleger Collor. Mas ele foi embora e tão cedo não vai disputar uma eleição. Mas ela continua de pé e, por incrível que pareça, politicamente mais forte do que Collor. Miriam imagina que pode influir na sucessão; Collor, não.
Se a campanha rumar mais uma vez por essa trilha, a democracia sairá arranhada.

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