São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma questão de apetite

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Acompanho com simpatia a carreira do ex-ministro Antônio Britto. As pesquisas de intenção de voto o colocam bem situado e parece que o seu prestígio eleitoral tende a crescer.
Foi correto repórter de telejornal, ganhou admiração em nível nacional em sua curta passagem no quase governo de Tancredo Neves. Como deputado federal portou-se com sobriedade. Finalmente, estourou como ministro da Previdência Social. Nada de espantar que o seu nome tenha surgido no elenco dos presidenciáveis, não apresentando arestas nem à direita nem à esquerda. Moço ainda, não é de seu feitio mostrar-se afobado. Ele acredita que, em termos de carreira pública, o governo do Rio Grande do Sul aumentaria o seu cacife para outra oportunidade. É um direito seu e devemos respeitá-lo.
Contudo, a situação que o país atravessa é delicada. A mesa está posta para um duelo entre Lula, candidato já em campanha, e um desconhecido que a nação ainda não sabe quem é. Há vários nomes esquentando as turbinas –é também direito de Brizola, Maluf, Quércia, Fernando Henrique e outros tentarem se colocar no tabuleiro para o lance final. Pessoalmente, acho até que Brizola é um caso especial, merecia comentário à parte.
Antônio Britto tem qualidades para fazer parte do time –e ele sabe disso. O diabo é que vem revelando uma inapetência que, em vez de beneficiá-lo, o compromete. Nada pior para o país do que um presidente sem apetite para a Presidência. Tivemos o caso de Figueiredo e temos agora o calvário de Itamar Franco. Certo, ambição demais, além de prejudicial ao candidato e à nação, também compromete e derruba qualquer político.
Mas tudo tem sua hora e vez. Britto é um nome que pode emergir como solução para os 70% do eleitorado que não pretende votar em Lula. Ele também sabe disso. Esquivar-se do desafio pode enriquecer sua biografia pessoal, mas pode também empobrecer as perspectivas de uma nação que necessita ter um presidente de fato.

Texto Anterior: Como ser calhorda
Próximo Texto: Campanha da Fraternidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.