São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Ofensiva anti-quercista ainda é hesitante

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CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ofensiva anti-quercista ainda é hesitante
Destruir a candidatura Orestes Quércia (PMDB). É esse o objetivo com o qual passaram a trabalhar, nos últimos dias, a cúpula do PSDB, boa parte da direção do PMDB e os setores anti-quercistas deste partido. A operação "delenda Quércia" nasceu da constatação da direção peessedebista de que ficou mais difícil a saída do ministro Fernando Henrique Cardoso da Fazenda, para disputar a Presidência, o que deixa o partido sem uma alternativa natural.
O caminho, sempre segundo essa avaliação, seria uma aliança com o PMDB, o que, por sua vez, exige afastar o obstáculo Quércia, de forma a entronizar o deputado e ex-ministro Antônio Britto (PMDB-RS) como o candidato dessa eventual coligação. A palavra "delenda" origina-se da expressão latina "delenda Cartago", que significa "Cartago deve ser destruída".
"Milagres"
A aliança com o PMDB é desejada, tanto pelo PSDB como por setores do PMDB, mesmo na hipótese de FHC ser o candidato. Mas, na mais recente avaliação feita pelos "tucanos", a candidatura Fernando Henrique está pendurada, agora, à ocorrência de um de três "milagres", conforme expressão colhida pela Folha junto à direção do PSDB, a saber:
1 - A inflação começar a cair antes de abril, prazo fatal para desincompatibilização, hipótese em que ninguém acredita.
2 - A aprovação da emenda constitucional que passa para julho, em vez de abril, a data de desincompatibilização dos ministros de Estado (entre outros).
3 - A formação de uma grande frente partidária de apoio à candidatura do ministro.
Como o PMDB é parte essencial dessa frente, volta-se inevitavelmente à operação "delenda Quércia". Trata-se, como é óbvio, de tarefa difícil, mas não impossível, a julgar pela avaliação do quadro peemedebista que é feita por um aliado tradicional de Quércia, o deputado Alberto Goldman (SP), não envolvido na operação.
Goldman diz que a candidatura Britto tem "expressivo contingente de apoio" no partido e que "ainda não dá para saber quem ganharia a convenção do PMDB, no caso de uma disputa".
Maioria indefinida
O deputado paulista calcula que o partido está dividido entre duas minorias (os quercistas e os anti-quercistas) e uma maioria que prefere esperar para ver o que vai acontecer nas próximas semanas, antes de fixar posição.
O problema principal da operação anti-Quércia é a hesitação demonstrada pelo anti-quercismo em envolver-se em uma batalha aberta. O receio só aumentou depois do ataque virulento disparado por Quércia contra o governador Ciro Gomes, do Ceará.
Reflexo fiel da dificuldade surgiu na reunião de quarta-feira da semana passada entre a cúpula dos dois partidos. Fernando Henrique chegou atrasado e não perdeu tempo. Sua primeira pergunta foi justamente como o PMDB pretendia livrar-se de Quércia. O deputado Luiz Henrique da Silveira (SC), presidente do partido, devolveu: "Vocês tem uma síndrome de derrota em relação ao Quércia".
O paradoxal é que pelo menos dois caciques peemedebistas, Britto e o senador Pedro Simon (RS), líder do governo no Senado, têm uma avaliação semelhante sobre as intenções de Quércia. Acham que ele não é, na verdade, candidato à Presidência, mas candidato a recuperar o controle do partido ou, no mínimo, da sua seção paulista, o que exige destruir o governador Luiz Antônio Fleury Filho.
Sem apoio
A análise que os dois peemedebistas têm feito, reproduzida à Folha por seus interlocutores mais recentes, é simples: mesmo que consiga ser o candidato presidencial do PMDB, Quércia não contaria com o apoio de ao menos cinco das mais importantes seções regionais do partido (RS, SC, PR, MG e PE), podendo perder parte de São Paulo, se o rompimento com Fleury for demasiado brusco.
"Ele ganha o cartório PMDB mas perde a eleição e, se nós sabemos disso, ele que é muito esperto, sabe mais ainda", conclui o raciocínio conjunto Brito/Simon.
Os dois acreditam que Quércia tentaria ser candidato ao governo de São Paulo, o que, de qualquer forma, não elimina o problema por ele representado para a sonhada aliança PMDB-PSDB. O PSDB tem candidato ao governo paulista, o senador Mário Covas, e nem remotamente pensa em abrir mão da disputa, menos ainda em favor de uma chapa conjunta encabeçada pelo arqui-inimigo Quércia.
Mais ainda: Britto tem admitido, em conversas reservadas, que, na remota hipótese de vir a ser o candidato presidencial da coligação PMDB-PSDB, ficaria extremamente constrangido em fazer campanha em São Paulo tendo Quércia como companheiro de palanque, na qualidade de candidato ao governo paulista.
Se esse elenco de portentosas dificuldades não for superado, resta a hipótese de parte do PMDB trair a eventual candidatura de Quércia à Presidência, trabalhando informalmente pela candidatura do PSDB.
Mesmo assim, surge outro problema: quem seria o candidato do PSDB, se não ocorrer nenhum dos "milagres" que condicionam a candidatura de FHC? A alternativa que mais circulou na semana passada foi Ciro Gomes. Mas ficaram mágoas talvez insanáveis do episódio das críticas de Ciro ao PMDB, logo após voltar do Japão e quando o PSDB negociava com o PMDB.
Franco-atirador
Ciro queixa-se a seus amigos de que não recebeu um único telefonema de solidariedade de seus companheiros, após ter sido duramente alvejado por Quércia, na resposta às suas críticas. A cúpula peessedebista reclama que o governador cearense agiu como franco-atirador, ao fazer ataques ao PMDB em um momento considerado inoportuno pelo comando partidário.
Se as mágoas queimarem a candidatura Ciro, o cenário fica mais complicado. "Aí, teríamos um candidato mais para marcar posição", admite Sérgio Motta, secretário-geral nacional do partido.
É, evidentemente, muito pouco. Por isso, o círculo se fecha, uma vez mais, em torno da necessidade de afastar Quércia.

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