São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Esqueça o placar, aproveite o espetáculo

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Vá lá. O critério de escolha dos titulares do All Star Game é injusto. A rigor, a votação dos fãs premia os atletas mais populares –e não os melhores. Cabe então aos técnicos corrigirem as distorções. Neste ano, George Karl (Oeste) e Lenny Wilkens (Leste) deram conta do recado.
Hoje em Minneapolis entram em quadra os melhores jogadores de basquete do mundo (pelo menos os que as contusões não impediram de participar).
Mas, como em todo amistoso, é óbvio que no All Star Game predomina um pique de "jogo de comadres". Por isso, é preciso assistir à partida com olhos diferentes.
Esqueça o placar –dos resultados ninguém se lembra– e tente apreciar os detalhes. A Folha faz um roteiro das verdadeiras atrações do jogo das estrelas. Fique de olho:
1) O duelo surdo dos superpivôs no Leste. Preste atenção na rivalidade entre o showman Shaquille O'Neal e o sisudo Patrick Ewing. Os dois não se bicam. Ano passado, Shaquille começou titular. Mas Ewing jogou melhor e, apoiado pelo seu técnico Pat Riley (NY Knicks), conquistou mais minutos em quadra. Por fora, corria o raçudo Alonzo Mourning, que acabou se machucando e foi substituído por Charles Oakley.
2) As enterradas de Shawn Kemp. Considerado um dos melhores jogadores defensivos da NBA, o ala/pivô de Seattle tem uma das mais bonitas enterradas da liga norte-americana.
3) A apatia de Danny Manning. O ala foi uma das maiores promessas da NBA nos últimos anos, mas sucumbiu à mediocridade de seu time (Los Angeles Clippers). Ficou com fama de mercenário. Com razão. Como seu compromisso vence nesta temporada, resolveu mostrar o que sabe. Resultado: voltou ao All Star Game e várias equipes, entre elas o Orlando Magic, querem o seu passe. Será um dos jogadores com mais vontade de aparecer hoje à noite em Minneapolis –tudo para justificar uns cobres a mais no contrato com seu novo time.
4) A tremedeira de Mitch Richmond. Desprezado pelo Golden State Warriors, deu a volta por cima no pequenino Sacramento Kings. Com boa pontaria, é o único armador entre os dez cestinhas da NBA. Mas tem a reputação de "afinar" em jogos importantes. A dúvida é saber como se comportará sob os holofotes do Target Center, em Minneapolis.
5) As assistências de John Stockton. Não adianta. O branquelo é o melhor passador da NBA. Lidera a liga em assistências (passe que resulta em cestas) desde 1988. Confira a química que o une a Karl Malone, seu companheiro de Utah Jazz.
6) O fôlego de Latrell Sprewell. Compare o desempenho do astro do Golden State com o dos outros armadores em quadra. Detém o recorde de minutos jogados nas últimas duas temporadas da NBA. Seu segredo: a versatilidade. Está acostumado a jogar em três posições: "point guard" (armador que mais bate bola), "shooting guard" (armador que prefere sobrar para os arremessos) e ala. Com isso, muda constantemente seu ritmo em quadra. No All Star Game, em que acontecem muitas substituições, isso é difícil de verificar. Mas fica a dica.
7) A velocidade dos superpivôs da Conferência do Oeste. Ao contrário dos "orientais", os gigantões Hakeem Olajuwon e David Robinson preferem a categoria à intimidação. São mais rápidos e inteligentes.
8) As broncas de George Karl. O técnico do Seattle é um dos mais brigões da NBA. Já foi demitido duas vezes por quebrar o pau com dirigentes. Que se cuidem os árbitros desta noite, então.
9) A fragilidade dos armadores da Conferência Leste. Com exceção de John Starks, que não foge do pau, os outros quatro às vezes "afinam" nas infiltrações. B.J. Armstrong, Kenny Anderson, Mookie Blaylock e Mark Price preferem arremessos e assistências mais "seguras" –mantendo boa distância dos adversários grandalhões.
10) A fisionomia de Horace Grant. Ganha um doce aquele que conseguir arrancar um sorriso do ala-pivô do Chicago Bulls. É tão ranzinza que acha que seu time melhorou depois da saída de Michael Jordan, o Pelé do basquete. O reconhecimento do All Star Game pode aliviar um pouco a barra. Pouco provável, porém.
11) As acrobacias de Dominique Wilkins. Se os joelhos e calcanhares deixarem, o veterano do Atlanta Hawks pode mostrar –no que deve ser seu último All Star Game– porque brigava com Jordan pela fama de jogador mais "plástico" da NBA. Showtime.
12) O jeitão cool de Scottie Pippen. Vale a pena conferir se o estupendo armador-ala-faz tudo (que alguém adivinhe sua posição de fato no Chicago) vai soltar as frangas esta noite. Façam as apostas.

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