São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994 |
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O pacote aberto
GABRIEL J. DE CARVALHO
Entre sindicalistas, a idéia de ter salário convertido pela média cheira a arrocho. Há uma crença generalizada de que salário justo é salário de pico, aquele valor que aparece no holerite do mês da data-base. Pouco importa se o poder aquisitivo é dado efetivamente pela média, conceito um tanto abstrato que, uma vez entendido, traz rápido à memória os estragos provocados pela inflação. As resistências também se explicam pela experiência de outros planos, cuja opção pela tal média foi desmoralizada logo adiante por índices crescentes da mesma inflação que se pretendeu abafar. Convencer lideranças sindicais e a sociedade de que agora o plano é prá valer será o maior desafio do Plano FHC. E não será tarefa fácil, ainda mais em circunstâncias que levantam suspeitas sobre as intenções políticas do ministro. Todos os planos anteriores surgiram da noite para o dia, na forma de pacotes fechados que o Congresso acabou sendo obrigado a engolir. Entre mortos e feridos não estavam apenas os salários. No Plano Cruzado, a tablita foi tão violenta que investidores em CDB prefixado chegaram a receber de volta valor nominal inferior ao principal aplicado, distorção eliminada à última hora do decreto-lei do plano seguinte, o Bresser. No choque de Collor, o sumiço dos cruzados novos levou gente ao desespero e até à morte, quando se precisou deles para uma cirurgia de emergência, por exemplo. Pelo que se sabe até agora do novo plano, surpresas assim estão descartadas, sob pena de levar o ministro ao descrédito total. Há meses ele insiste que tudo será feito às claras. Surge então a oportunidade de a sociedade, se não decidir, pelo menos saber de antemão o que vem pela frente. Texto Anterior: Expectativa ainda é positiva Próximo Texto: Alternativa para diversificar Índice |
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