São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Leo Kriss, a máquina de fazer dinheiro

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário e especulador profissional Leo Kriss, dono da Evadin, Brinquedos Tec-Toy e Banco Tendência, está em algum lugar, neste exato momento, refletindo sobre seus próximos passos. Já ganhou uma fortuna estimada em US$ 100 milhões com a alta das Bolsas e depois do Carnaval vai voltar com a bateria recarregada. O homem é uma máquina de fazer dinheiro.
Seus poucos amigos dizem que ele está vendendo parte de sua carteira de ações para embolsar o lucro e comprando opções, um tipo de negócio realizado nas Bolsas onde alguém promete vender para alguém as mesmas ações, por preço predeterminado, em alguma fração de tempo localizada no futuro. Seja qual for sua estratégia, deve engordar seu lucro.
Seu poder de fogo no jogo das Bolsas é estimado em US$ 450 milhões pelo pessoal que acompanha o mercado acionário. É o volume de dinheiro que Leo Kriss mantém guardado no exterior, em um fundo de investimento de capital estrangeiro em ações no Brasil.
É um homem misterioso, com cerca de 1,50 metro de altura, gordo e fechado aos prazeres comuns -como jogar conversa fora e patrocinar banquetes reluzentes para se promover. Sua especialidade é mesmo ganhar dinheiro. O máximo em vida social é frequentar a Sinagoga da Congregação Israelita Paulista, nos Jardins. Fotos e entrevistas a jornais, nem pensar. Toda vez que sua secretária informa que algum repórter lhe requisita uma entrevista, faz cara feia.
O maior amigo de Leo Kriss, hoje, é o seu braço direito, Ike Rahman, o homem designado para comandar as operações do Banco Tendência. Tem o respeito da colônia judaica e um dos seus maiores admiradores é Isaac Sverner, dono da CCE. Com uma vida regrada assim, Leo Kriss acabou se tornando uma lenda no mercado.
O que ele inventa, muita gente repete. No final do ano passado, foi o primeiro investidor brasileiro a fechar uma operação de venda de ações da Telebrás, no Brasil, com contrapartida em um contrato de opções no exterior. Leo Kriss vendeu US$ 20 milhões em ações da Telebrás para o Citibank, no Brasil, e recomprou opções do próprio banco, só que nos Estados Unidos. A moda pegou e virou rotina os grandes investidores montarem esquemas semelhantes com parceiros internacionais.
Leo Kriss, hoje com 47 anos, começou a revelar desde cedo o destino de vencedor. Seu pai, empresário do setor de exportações e importações, o enviou para estudar nos Estados Unidos. No lugar da vida acadêmica, dedicou-se a garimpar novidades nas vitrines das lojas americanas para importar e vender no Brasil. A outra parte do tempo foi preenchida em visitas às corretoras de valores americanas.
Retornou ao Brasil e começou a se destacar no mercado de ações em 1986. Foi quando começou a chamar a atenção pelas suas ousadas intervenções no pregão das Bolsas. Nesta época, seu grande adversário atendia pelo nome de Naji Robert Nahas, hoje falido. "Ao contrário do Nahas, que jogava para aniquilar o inimigo, ele sempre trabalhou diferente", define um especialista do mercado.
Uma das frases favoritas de Leo Kriss define sua cabeça: "'Nunca se mata o adversário. Sem ele, não terei parceiros para o jogo." Foi essa razão que o levou a ajudar Nahas em diversas ocasiões, inclusive com dinheiro em momentos de maior aperto. E nunca, também ao contrário de Nahas, participou de operações em grupos. Como um cowboy, vai sozinho para o que der e vier.
"Na verdade, ele confia no seu taco e na sua capacidade de organizar a tática que será vencedora", explica outro especialista que gozou de sua companhia em alguns jantares e almoços. Isso não quer dizer que Leo Kriss seja infalível. No vencimento do mercado de opções de outubro de 1987, Kriss levou um dos seus maiores tombos e perdeu para Naji Nahas. Ele estava comprado, Nahas vendido. Até a véspera do vencimento, a direção da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) estava preocupada porque Nahas estava perdendo muito dinheiro.
Só que a cotação das ações caiu 20% num único dia, afetada por uma "crash" da Nyse (New Yord Stock Exchange, a Bolsa de Valores americana). Mas 1993 e este começo de 1994 formam um período de ouro para Leo Kriss. Ganhou o ano passado inteiro e continua no lucro. Só perde para o Banco Garantia e está ao lado de outros grandes ganhadores como o Banco Pactual e o Banco Icatu. Estas instituições, porém, atendem a terceiros e juntam tudo num bolo.
Usa ternos simples e suas extravagâncias são tomar uma dose de uísque de vez em quando, fumar charutos e dirigir automóveis importados do tipo "carrão", como seu Lincoln Continental. Também é disciplinado. Toda vez que a direção da Bovespa o chama para reduzir sua posição, obedece com correção.
Leo Kriss prefere deixar o elástico esticar, mas sem deixar arrebentar. E ganha. Quando lucra bastante, o máximo em termos de comemoração é convidar para um jantar seu braço direito, Ike Rahman, e outros auxiliares.

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