São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sonho é 'recuperação espiritual'

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MOSCOU

Alexander Soljenitsin não oculta os planos para a vida na Rússia do pós-comunismo: viajar pelo país e pregar a idéia da "recuperação espiritual" do país. Ele garante, no entanto, que não se trata de um projeto político ou partidário. Para o escritor, a "salvação" requer o fortalecimento do nacionalismo russo e da Igreja Ortodoxa.
Quando anunciou os planos de voltar à terra natal em maio deste ano, Soljenitsin despertou preocupação entre diferentes líderes políticos russos, interessados em conquistar o apoio do escritor. Soljenitsin representa uma espécie de "dono maior" da idéia nacionalista russa, que hoje seduz tanto os reformistas mais radicais quanto os monarquistas e neofascistas entrincheirados na oposição.
Soljenitsin nunca se filiou a nenhum partido ou movimento social russo e, apesar da posição anticomunista, não endossa todas as iniciativas do presidente Boris Ieltsin. Criticou acidamente o curso das reformas econômicas de 1992 e 1993. "Não precisamos ir de joelhos implorando ao FMI", opinou o escritor, incomodado pelo alto teor de "ocidentalização" da Rússia.
Ieltsin prefere ignorar as farpas lançadas desde o exílio e prepara o terreno para a eventual aliança com o escritor que deseja ser a "liderança espiritual" do país. O porta-voz presidencial, Viatcheslav Kostikov, chegou a comparar os dois personagens: "O pensamento e a visão da Rússia que carregam esses dois homens trazem muitos pontos em comum".
Enquanto assegura que não vai participar da vida partidária russa, Soljenitsin espera o fim da construção de sua nova casa nos arredores de Moscou. O antigo apartamento, onde viveu em Moscou antes do exílio, se transforma na sede de uma fundação de ajuda às vítimas da repressão soviética, um empreendimento dirigido por Natalia, a mulher do escritor.
Segundo Natalia, Soljenitsin, 75, quer "morrer na Rússia". De volta à terra natal, ele vai deixar a atividade literária em segundo plano, superada pela pregação do nacionalismo russo. "Ele não quer mais escrever livros, apenas contos", revela Natalia.

Texto Anterior: Rússia já aceita ataque a sérvios
Próximo Texto: Soljenitsin fecha o ciclo de seu exílio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.