São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Parmalat verde e rosa

CLÓVIS ROSSI

RIO DE JANEIRO - Se a Parmalat está revolucionando o futebol paulista, ao patrocinar o Palmeiras, suas congêneres estão investindo também no morro e no samba, com resultados que sugerem alguma reflexão. A Estação Primeira de Mangueira, um dos mais acabados representantes da chamada cultura popular brasileira, associou-se, entre outras empresas, à Xerox, que talvez seja o melhor símbolo de pasteurização da produção. Não há cópia xerox, no mundo todo, que seja uma diferente da outra.
A Xerox coloca o equivalente a US$ 300 mil por ano na Vila Olímpica da Mangueira, projeto pelo qual já passaram cerca de 30 mil crianças da comunidade. O espírito da coisa não é apenas esportivo, mas também social.
No samba especificamente, a Mangueira, desde o ano passado, passou a ser "vendida" por uma empresa de promoções, a ZMM. Ela comercializa desde o show "Fala, Mangueira" até o "Camarote Verde e Rosa" (as cores da escola). Os clientes são, essencialmente, empresas, e as multinacionais, como é óbvio, figuram entre as principais.
Resultado: para o Carnaval deste ano, a ZMM arrecadou líquidos para a Mangueira US$ 300 mil, o que representa algo mais de 30% do custo de colocar a escola no Sambódromo (parte do custo é bancado pelas diferentes alas). Para 94, o projeto de marketing da Mangueira ultrapassa as fronteiras brasileiras, pois prevê shows no exterior, o que, pelo menos no planejamento, vai aumentar muito o faturamento.
Com isso, a Mangueira supera uma polêmica antiga e mal resolvida sobre financiamento oficial à arte dita popular. A escola não depende nem de recursos públicos nem do dinheiro dos banqueiros do bicho, mecenas de quase todas as demais escolas.
Resta comprovar se a Mangueira, como as demais, não barrou do baile os integrantes de sua própria comunidade. O presidente, Roberto Firmino, jura que não e garante que mais de 500 pessoas do morro puderam desfilar no Carnaval passado, com fantasias que a própria escola deu a elas. Se é mesmo assim, o título do samba-enredo deste ano, mais do que samba, vai virar profecia: "Atrás da verde e rosa, só não vai quem já morreu"

Texto Anterior: Desemprego até quando?
Próximo Texto: A camisinha e a injustiça
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.