São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1994
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Beleza, talento e sex-appeal garantem novo espaço em novelas a atores negros

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

O sex-appeal dos atores negros está em alta. A TV descobriu seu potencial de sensualidade ou se convenceu de que os 87 milhões de negros do país não poderiam ficar fora do universo representado nas novelas? As interpretações vão do mais ao menos otimista. O fato é que a beleza e a sensualidade de Norton Nascimento (Wotan) e Camila Pitanga (Terezinha), por exemplo, conquistaram para a dupla lugar de destaque em "Fera Ferida".
"O meio cultural brasileiro começa a perceber que o negro é um mercado comprador significativo", analisa o ator Milton Gonçalves, que em 75 pediu a Janete Clair e a Daniel Filho "um papel de gravata" na novela "Pecado Capital". Ganhou o psiquiatra Percival, que na época causou espanto e indignação em muita gente.
Hoje, só no núcleo de "Fera" há 16 atores negros. Em "Olho no Olho", o namoro entre Sebastião (Fernando Almeida) e a louríssima Dominique (Daniele Winits) já não causa tanta celeuma quanto seus similares anteriores. "Muita gente me diz na rua que torce para que fiquemos juntos. Preconceito é uma coisa superada para as pessoas inteligentes", diz Almeida, 19, que recebe cerca de 50 cartas por mês de suas fãs.
A popularidade só não lhe garantiu ainda a receita adicional proveniente das apresentações em bailes de debutantes, uma barreira que os atores negros ainda não quebraram. "Queria ver os atores negros fazendo comerciais de carros ou cartões de crédito, e não só aqueles anúncios ligados a humor ou samba", ressalva Norton Nascimento, um ex-jogador de basquete que trocou as quadras pelo palco em 87 (leia texto ao lado).
Nascimento já é um dos sex-symbols da TV, mas isso não o faz incluir-se no hall dos galãs. "Para mim, símbolos sexuais são atores como o Leonardo Vieira, requisitados para comerciais de empresas aéreas e rasgados na rua pelas fãs. Meu jeito é mais simples, converso com todo mundo quando vou à feira, não tem essa de estrela".
Na ala feminina, o estrelato abre mais possibilidades. Isabel Fillardis, a bela Ritinha de "Renascer", colhe até hoje os frutos da projeção alcançada com a novela. Sua agenda está lotada de compromissos para desfiles, apresentações de conferências, ou simples presença em festas. "Acho que caiu aquele tabu de atores negros só fazerem certos papéis e a tendência é melhorar", acredita.
Para sua sucessora na faixa das oito, Camila Pitanga, o próximo passo para os atores negros é conquistar os papéis principais. "Isso ainda vai demorar um pouco, mas a gente chega lá", diz a filha do ator e vereador pelo PT carioca Antônio Pitanga, um veterano que passou a maior parte da carreira esperando convites para papéis de bandido, escravo ou empregado.
"Negro na TV brasileira é escravo ou empregada doméstica", diz Chica Xavier, outra veterana desiludida com as limitações de seus personagens.
A mais nova aspirante ao estrelato na TV surge em "Fera Ferida" esta semana. Érika Rosa, 14, vai interpretar Clara dos Anjos, criada pelos pais numa redoma para presidir a irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte e reinar sobre os negros de Tubiacanga.
Filha da ex-modelo Maria Rosa, Érika diz que chega à TV num momento especialmente bom. "Estava demorando essa abertura para a chegada da nova safra", diz a estrelinha.

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