São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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SP faz "desfile-sucatão" com alegorias velhas do Rio

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

As escolas de samba de São Paulo reciclam materiais usados pelas agremiações cariocas. Ontem, no Pólo de Arte e Cultura do Anhembi (Sambódromo), foram vistos carros alegóricos e esculturas que desfilaram na Marquês de Sapucaí em 1993.
A Unidos de São Miguel, estreante no Grupo Especial de São Paulo, admite a compra de sucatas cariocas. "Nós reciclamos porque o material se encaixava no nosso enredo. Acaba saindo mais barato do que fabricar", disse João Bosco, vice-presidente da agremiação.
A escola de São Miguel Paulista (zona leste), exibiu na passarela do Sambódromo três estátuas e oito bonecos, "importados" da Estação Primeira de Mangueira. "Pagamos CR$ 800 mil pelo material. Se fôssemos fazer, teríamos que gastar pelo menos CR$ 4 milhões", justifica Bosco. Todo o material foi usado pela Mangueira no ano passado.
A Gaviões da Fiel Torcida, uma das favoritas ao título, também apelou para as "irmãs cariocas". O carnavalesco Raul Diniz admite ter comprado no Rio as estátuas de sacis-pererês e as cabeças de três dragões que ornavam carros alegóricos da escola-torcida corintiana. Diniz disse que não se lembra que escolas usaram os adereços em 93.
A Leandro de Itaquera, outra favorita, fechou o desfile com um barco muito parecido com o usado no ano passado pela Acadêmicos do Salgueiro. As concorrentes acusam a Leandro de ter comprado a alegoria da escola carioca. Em São Paulo, só teria mudado o revestimento. Os diretores da agremiação da zona leste negam o negócio com a Salgueiro, mas admitem a "coincidência". "O barco foi totalmente produzido no nosso barracão", defende-se o compositor e carnavalesco Luizinho.
No regulamento do desfile paulistano não há nenhuma proibição à reciclagem de criações cariocas. O presidente da Liga das Escolas de Samba, Sólon Tadeu Pereira, confirma o procedimento. "Acho incorreto. Lamento que isso ocorra no Carnaval de São Paulo, que daqui há dois anos vai ser melhor que o do Rio", afirma.
Discrição
O desfile das escolas paulistanas foi bastante discreto quanto à exploração da nudez. Ninguém apareceu totalmente nu na passarela. Poucas mulheres desfilaram com os seios descobertos.
As mulheres seminuas passaram despercebidas do público, diferente de uma ala de halterofilistas que só usavam sunga. O carro "Noite", da Primeira da Aclimação arrancou urros da platéia feminina. A alegoria transportava três homens, que representavam garotos de programa.

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