São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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Ile-Ayê faz 20 anos com festa para 2 mil

Comemoração inclui benção de mãe-de-santo, fogos e pombas brancas; bloco mantém todos os integrantes negros
Um dos mais bonitos e emocionantes acontecimentos do Carnaval baiano, a lavagem do Ilê Aiyê reuniu na noite de sábado cerca de 2.000 pessoas na ladeira do Curuzu, na Liberdade, o maior reduto negro de Salvador (com cerca de 500 mil moradores). A cerimônia começou às 23h e foi comandada por uma mãe-de-santo, representante do orixá Oxalá – que abençoou com um pó branco (pemba) o bloco, seus integrantes e todos os turistas presentes 'a cerimônia de inauguração do Carnaval deste ano.
Pombas brancas foram soltas e a partir daí, uma chuva de fogos de artifício e os tambores deram início ao Carnaval do Ilê-Aiyê. "Nunca vi nada tão emocionante. É incrível como esta multidão permanece quieta num segundo para explodir em alegria e dança no seguinte", disse o norte-americano John Travis Walters, 20, que faz sua primeira visita ao Brasil.
"Fico com um pouco de medo ao ver tanta gente, mas é lindo", afirmou a turista argentina Mirella Pontes.
Para comemorar seus vinte anos de existência, o bloco mais engajado da Bahia escolheu o tema "Uma África Chamada Brasil" e reuniu para o desfile –que começou no Campo Grande às 4h30 da madrugada de domingo–, cerca de 3.000 integrantes, com fantasias de motivos afro nas cores branca, vermelha e preta, além de muitos turbantes amarelos.
A música, que foi composta por Suka e Carlão, inspirada no som dos atabaques, tambores e viola, aliada à plasticidade do bloco empolgaram a platéia do Campo Grande.
Liderado por Antonio Carlos dos Santos, conhecido como Vovô do Ilê, o Ilê-Aiyê polariza com o Olodum a questão racial da Bahia. Enquanto o segundo decidiu abrir suas cordas à participação de turistas, o Ilê permanece irredutível: todos seus componentes são negros.
"Caso contrário o povo acabará sem brincar Carnaval, com o preço das fantasias lá em cima", defende Antonio Carlos dos Santos, que em 74 –inspirado no movimento negro norte-americano– criou com Apolinário de Jesus o bloco, que à época contava com apenas cem integrantes.
O Ilê passou a defender a cultura negra originária da África, a afirmação de um padrão de beleza negra, estimulando o ensino informal da história das civilizaçõs negras, além do respeito ao candomblé.
Quando se vê o Ilê-Ayiê passar, com suas danças e charmes africanos, das duas uma: ou se torce para ele permancer sempre assim –ou se sente uma vontade enorme de que o bloco resolva abrir uma exceção para que se possa sair com ele.

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