São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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A empresa do terceiro milênio

SAMUEL COGAN

O marketing de nichos é uma tendência cada vez maior no mundo de hoje. Ao invés de se ter produtos dos quais todos gostem um pouco, melhor é trabalhar aqueles dos quais alguns consumidores gostem muito. O atendimento dessas necessidades já permite antever que a empresa do futuro terá de produzir de forma personalizada uma grande variedade de produtos ao contrário da patronização/produção em massa que é o paradigma atual.
No passado os clientes eram atendidos diretamente pelo "artesão", que conhecendo os desejos e as necessidades de cada um, produzia sob encomenda e de forma personalizada.
A revolução industrial, com o surgimento de máquinas de elevada produtividade, além do suporte do desenvolvimento alcançado no campo da administração gerencial, trouxe as condições que permitiram a produção em larga escala de produtos padronizados, que visavam atingir um mercado cada vez maior.
O desafio da fábrica do futuro será da volta às origens, sem a perda do que já se conquistou. Uma vez que os clientes são únicos e possuem necessidades específicas, buscam soluções únicas. As empresas do futuro deverão estar preparadas para responder em tempo hábil, pelo projeto, produção e entrega do que cada cliente individual deseja – sem que isso necessariamente represente um acréscimo nos custos.
A maioria das teorias desenvolvidas para a produção, sempre procuraram enfocar a manufatura repetitiva, voltada para o mercado de massa, não para a produção personalizada. Esse é na realidade, um negócio de extrema complexidade – produção personalizada significa produzir sob encomenda, produtos não padronizados. A previsão é de que essa será uma estratégia competitiva diferenciadora, onde novos paradigmas como a flexibilidade/ diversificação/ personalização, cada vez mais ocuparão espaços hoje preenchidos pela produção repetitiva/ padronizada, onde o exemplo básico foi a linha de montagem de Ford, com seu famoso modelo "Ford T". Ford, suplantou o desafio que se lhe apresentava na época, que era justamente o de sair de uma produção personalizada artesanal, para uma produção em massa com custos decrescentes. Novos segmentos de mercado passaram a ter acesso a esses produtos, que em consequência da escala produtiva, tiveram seus custos reduzidos.
A provocacão que se apresenta, é o do retorno aos velhos tempos em que se atendia às especificidades de cada cliente – a fábrica do futuro deverá estar preparada para uma produção em massa e ao mesmo tempo personalizada.
Isso, contudo, não implica na radicalização em termos dessa nova forma de produção. É de se esperar que o atual domínio da produção seriada tenderá a enfraquecer no futuro, dando lugar cada vez mais à expansão da cultura da personalização. Além disso, as conquistas que se obterão nesse campo, certamente também trarão benefícios para a atual produção repetitiva/seriada.
O potencial da produção personalizada em massa, num mundo industrializado, já é uma realidade hoje, e alcançar esse objetivo está diretamente relacionado com a alteração dos paradigmas atuais (múltiplos fornecedores; grande estoques de segurança; "set ups" pouco frequentes; tecnologia como fim e não um suporte, centrado nas pessoas, etc.).
A inovação passa a ser a palavra de ordem nos esforços em direção à produção personalizada. A imitação não mais será suficiente para resolver os problemas que são únicos/ específicos de cada cliente. Poder-se-ia até lembrar que os japoneses, atuais líderes mundiais em manufatura, não basearam sua superioridade na inovação, porém na imitação. Sem dúvida alguma o tradicional modo japonês de dominar os negócios partindo do zero foi uma mistura de estratégias de imitação e inovação, porém numa ordem bem particular: primeiro, através de uma licença estrangeira foi possível estudar o produto e o processo de fabricação. Com o gradual aumento de conhecimento, transformaram de forma progressiva, aquele determinado produto estrangeiro para o qual haviam obtido licença, em um processo próprio de produção.
Ao contrário do que se costumava predizer no passado, a fábrica do futuro não mais é visualizada como aquela totalmente automatizada/ robotizada. A pessoa é insubstituível no sistema; a tecnologia deverá ser desenvolvida como um suporte às pessoas. Esta, juntamente com a inovação, projetos de produto a baixo custo, flexibilidade nos sistemas de produção, serão ações que terão marcante destaque na edificação da empresa do futuro, que além de manter seu escopo atual da produção industrial de massa, atenderá cada cliente como a competição exige – de forma personalizada.

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