São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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Campanhas contra a Aids ajudam?

DA REPORTAGEM LOCAL

Campanhas conta a Aids ajudam?
Desde o final da década de 80, quando o Ministério da Saúde desenvolveu as primeiras campanhas de preveção à Aids, o governo tem sido criticado por um ponto fundamental: o incentivo ao uso da camisinha é um ponto secundário nestas propagandas.
A maior queixa de publicitários e médicos especialistas no assunto é que a publicidade oficial sobre prevenção à Aids é normalmente centrada no medo e na paranóia. "Aids mata" foi um dos slogans mais usados nestas campanhas. Sem dúvida é forte, tem apelo, mas é pouco informativo. Isto é, a pessoa fica sabendo que a Aids não tem cura, mas não sabe com evitá-la.
Apenas nesta época, durante o Carnaval, as campanhas do governo insistem mais nos preservativos. No ano passado, por exemplo, a mensagem vinha embalada em jingle com ritmo de "axé-music".
Após as primeiras campanhas –as "amedrontadoras"–, o mote do governo passou a ser a solidariedade contra os pacientes de Aids, já em 1991. A campanha custou US$ 500 mil, dividos entre dez empresas.
Outro ponto jogado para escanteio pelas campanhas do governo –ainda mais que a camisinha– foi a possibilidade do HIV através de seringas descartáveis. Havia um temor do governo em falar de uma atividade proibida (o uso e tráfico de drogas).
Quanto à camisinha, as maiores pressões são de grupos católicos ou instituições "anti-pornografia". Até hoje, a Igreja Católica prega a abstinência sexual, a monogamia e o sexo apenas para a procriação como as formas mais eficientes de evitar o contágio.
Na campanha de 1991, o governo tinha em mãos uma pesquisa que mostrava que apenas 10% dos brasileiros usavam camisinha, mas preferiu omitir o tema dos comericias de TV, deixando-o apenas para os cartazes divulgados pelo Ministério da Saúde.
"Não se pode pensar que só falando em uso da camisinha o problema está resolvido", disse na época o então coordenador de Aids do Ministério da Saúde, Eduardo Côrtes. Ele se baseava no exemplo da França para evitar falar no tema. "O que era um símbolo de segurança virou sinônimo de Aids, e hoje na França tem gente que não faz sexo com quem usa camisinha. Quem usa caminisnha sente-se rejeitado porque é identificado como pertencente ao grupo de risco", afirmou.
Nas campanhas mais recentes, o governo acabou vencido pela avalanche de campanhas "privadas" e passou a centrar as campanhas televisivas na camisinha e nas seringas descartáveis. A conclusão de que incentivar o uso da camisinha era a maneira ideal de evitar a transmissão da Aids levou anos, mas aconteceu.

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