São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 1994
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Crowded agrada com pop cheio de texturas

EDSON FRANCO
DAS REGIONAIS

Discos como "Together Alone", do quarteto australiano Crowded House, devem ser comemorados como a passagem do cometa Halley. De tempos em tempos, o pop é presenteado com trabalhos despretensiosos e cativantes que têm na arregimentação de lindas canções sua única e sublime preocupação. É exatamente isso que o Crowded House fez. Seu disco é uma reunião de 13 delícias auditivas.
A estréia da banda no mercado nacional foi desvirtuada pelo sucesso massivo e maçante da balada baba "Don't Dream It's Over", há dois anos. Com o novo disco, o grupo transformou o título dessa música em presságio. Seria uma injustiça que a banda acabasse sem que o mundo conhecesse o vocalista Neil Finn como compositor.
Apesar do nome de adoçante, Finn não deixou qualquer vestígio do passado açucarado melar o novo trabalho. Tampouco, deixou espaço para obviedades. É fascinante a maneira como as melodias de Finn serpenteiam e desembocam em contrastes sonoros incomuns, porém sempre pautados pelo bom gosto. Exemplos significativos são os finais das frases de "Catherine Wheels".
A faixa-título não tem o mesmo vigor das melhores músicas do disco, mas com sua textura climática e acústica, é ela que norteia todo o resto do trabalho. Essa música realça outra característica do disco: o detalhismo nos arranjos por meio do uso demorado de elementos de outros países. Sem pretensões de fazer world music, o Crowded enxerta um coral tipicamente sul-africano nessa faixa.
Na melodia sinuosa de "Walking on the Spot", um acordeon esborrifa um pouco do rio Sena. Já em "Private Universe", a tabla –instrumento percussivo hindu– empresta uma sonoridade que impregna a música com a sensação de um incenso aceso. Mas não importa quantos elementos estrangeiros o grupo use. O resultado é sempre o mais puro pop melodicamente correto.
Algumas músicas no disco mostram que o Crowded pode também pleitear sua aparição em um "Acústico MTV". "Fingers Of Love" e "Nails On My Feet" são músicas que aparecem despidas do manto elétrico. Arriscam-se ao ter como único apoio a eficiência da melodia, mas isso é justamente o que o disco tem de sobra.
Os Beatles são uma influência inegável no trabalho da banda. Essa inspiração rendeu as melhores músicas do disco. "Pineapple Head" tem um arranjo de violões que remete imediatamente à clássica "You've Got to Hide your Love Away", perpetrada pelo quarteto de Liverpool no disco "Help". No ritmo pontuado de "In my Command", o vocalista se esforça para parecer John Lennon e escancara ainda mais a influência.
Assim como "Steve McQueen" (Prefab Sprout) e "Into the Great Wide Open" (Tom Petty), "Together Alone"não veio ao mundo com a pretensão de mudá-lo. Entra para a história do pop como um desses momentos em que músicos intuitivos são ungidos pela inspiração e a distribuem via CD.

Disco: Together Alone
Autor: Crowded House
Gravadora: EMI-Odeom
Preço: CR$ 8 mil (em média, CD)

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