São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 1994
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Itamar, o conquistador

É óbvio que o presidente da República, bem como qualquer outro cidadão, tem todo o direito de namorar ou insinuar-se para quem bem desejar. É até bom que Itamar Franco consiga uma namorada. Isso tenderia a aliviar suas tensões, o que talvez resultasse em menos sobressaltos para o país.
O que é de se estranhar no episódio carnavalesco envolvendo o presidente e a modelo Lílian Ramos –para além do gosto duvidoso das cantadas presidenciais e do desejo irrefreado da modelo de aparecer– é a facilidade com que Itamar Franco confunde o público e o privado.
Quer goste ou não, Itamar Franco é o principal mandatário da nação. Quer goste ou não, Itamar Franco foi ao Rio assistir ao desfile das escolas de samba na qualidade de presidente da República. Quer goste ou não, Itamar Franco teve toda a imprensa em seu encalço, dando publicidade a seus atos, desde sentar-se sobre uma fatia de melancia aos ágeis movimentos de suas mãos sobre o corpo da modelo. Quer goste ou não, deixar-se fotografar ao lado de uma mulher vestida em trajes bastante sumários torna-se facilmente notícia.
A separação entre o que é público e o que é privado ruiu, caindo em profunda promiscuidade, quando a modelo, inebriada pelos seus 15 segundos de fama, aparentemente autorizou a TV a gravar sua conversa telefônica com o presidente da República. Não se pode tampouco deixar de censurar a conduta do ministro da Justiça, Maurício Corrêa, que aparentemente com mais miligramas de álcool no sangue do que seria desejável também se insinuou para a modelo.
E as reações ao ocorrido –que alguns exageradamente já chamam de escândalo– são as mais variadas, havendo desde aqueles que se divertem com um insolitamente decidido Itamar Franco até aqueles que ainda se chocam com a situação. O fato, contudo, é que o presidente da República não está aí nem para chocar nem para divertir a sociedade. Para isso já existem os palhaços e os artistas.

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