São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 1994
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Nu frontal

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Bem que eu venho dizendo, faz tempo, que o Zé Simão é o melhor colunista político do Brasil, embora a sua coluna não seja formalmente política. Desde antes do Carnaval, o Zé associava a ele a palavra genitália. Não é que graças ao Carnaval, ao presidente Itamar Franco e a uma modelo louca por publicidade, as páginas políticas de pelo menos dois jornais (Folha e "O Globo") publicaram as que devem ser as primeiras fotos de nu frontal da história do jornalismo político brasileiro?
Agora, a ombudsman da Folha, Junia Nogueira de Sá, vai ter um trabalho do cão discutindo a reação dos leitores. Por mim, nada a objetar, mas que causa um certo choque em parte do leitorado, não há a mais leve dúvida. Ontem, enquanto os paulistas que foram ver e/ou desfilar pela Mangueira no Rio, aguardavam o avião de volta, a Folha com a indigitada foto circulou entre alguns passageiros. Deu para ver, de longe, a reação de uma jovem, recém-ingressada na faculdade de Direito, que levou a mão à boca no clássico sinal de espanto ou estupor.
Se uma jovem universitária (idade e nível de instrução que, em tese, induzem a menos preconceitos) tem esse tipo de reação, não é difícil imaginar como reagirá o leitor de mais idade e mais ortodoxo.
No momento em que os políticos estão atravessando, não só no Brasil, um momento de agudo desprestígio, muitas pessoas vão encarar a foto como a demonstração definitiva de que esse tipo de gente chegou ao fundo do poço. Logo, a foto terá consequências políticas, embora os jornais, pelo menos os que li, tenham dado ao episódio a sua devida dimensão, folclorizando-o mais do que dramatizando-o.
Histórias de escândalos nas relações sentimentais de políticos sempre existiram. Mas, no Brasil, quase sempre foram cobertas por um véu de discrição, como se políticos fossem assexuados. Desse ponto de vista, o episódio do Sambódromo leva a vantagem de ter ocorrido à vista de todos. Ganha em escândalo o que perde em hipocrisia. Resta ver o que dirão os leitores e responderá a ombudsman.

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