São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 1994
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'Quem É Beta?' é 'Mad Max' dos pobres

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Quem É Beta? (Pas de Violence Entre Nous)
Produção: Brasil/França, 1973
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Elenco: Frédéric de Pasquale, Sylvie Fennec, Regina Rosemburgo
Onde: hoje, às 21h, no Espaço Banco Nacional de Cinema

O projeto original de Nelson Pereira dos Santos para esta co-produção franco-brasileira era o de uma ficção científica com um sofisticado aparato tecnológico. O resultado final, entretanto, é uma espécie de "Mad Max" do Terceiro Mundo, sem pé nem cabeça.
A mudança –ou ausência– de rumo do filme não pode ser creditada apenas à precariedade de recursos da produção (que reduziu o "aparato tecnológico" a um walkie-talkie e algumas granadas), mas também e principalmente a um certo espírito do tempo (início dos anos 70). Um espírito, grosso modo, de perplexidade, desorientação e delírio, traços comuns a inúmeras produções do período.
Em "Quem É Beta?", uma hecatombe qualquer "destruiu a sociedade humana", como diz o letreiro de apresentação, e os poucos sobreviventes dividem-se entre os "contaminated" –que regrediram a um estágio animalesco e arrastam-se como zumbis atrás de água e comida– e guerrilheiros que se defendem dos primeiros com máscaras antigases, rifles e granadas. Há aparentemente um terceiro grupo, uma comunidade meio mística, meio naturalista, mas não dá para ter certeza de nada nesse imbroglio lisérgico à beira-mar (em Parati).
Com um roteiro escrito nas coxas –se é que existiu algum roteiro– e uma direção marcada pela improvisação, "Quem É Beta?" vale como documento de época e por algumas idéias não devidamente aproveitadas, como a do aparelho inventado pelo protagonista (Frédéric de Pasquale, dublado por Paulo César Pereio) para projetar lembranças –um artefato que faria a delícia de um Wenders.
Há belas cenas isoladas, como o ritual com um bebê numa igreja em ruínas, ou os dois guerrilheiros andando lado a lado em silêncio na estrada, num plano de simetria perfeita. O resto é piração.

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